São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
Próximo Texto | Índice

BC prevê mais intervenções em 95

SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, definiu duas estratégias para lidar com a crise dos bancos privados: intervir e sanear essas instituições, em vez de liquidá-las, e incentivar a fusão com outras instituições antes dos problemas se tornarem públicos.
O Banco Central prevê que, até o final deste ano, mais alguns bancos privados poderão passar por crises de insolvência, ou seja, incapacidade de pagamento dos compromissos e de fechar o caixa ao final do dia.
A queda das taxas de inflação -que diminuiu o tradicional lucro inflacionário- e a má gestão administrativa são, na avaliação do BC, os problemas maiores das instituições às voltas com problemas de liquidez.
Anteontem, o BC interveio nos bancos Econômico (Bahia), Mercantil (Pernambuco) e Comercial (São Paulo).
Desde o lançamento do Plano Real, em julho do ano passado, foram 76 medidas -entre liquidações, intervenções e administrações especiais- sobre instituições financeiras e consórcios.
A idéia do Banco Central é estimular a compra do controle acionário por outros grupos das instituições que enfrentam problemas. Em troca, o governo privilegiaria esses bancos com condições mais favoráveis nas linhas de socorro financeiro junto ao BC.
Esses bancos ganhariam, por exemplo, prazos mais longos para os empréstimos de liquidez do BC -na prática, o Banco Central facilitaria os financiamentos com o objetivo de que essas instituições disponham de mais dinheiro para honrar seus compromissos em dia.

Por que não liquidar
Para o BC, os processos de liquidação extrajudicial de bancos privados são juridicamente complicados, tumultuam o mercado e geram desconfiança em relação ao sistema financeiro.
Além disso, a liquidação de instituições privadas esbarra no sinal vermelho do Palácio do Planalto por causa das pressões políticas, como no caso do Econômico.
A idéia inicial do BC era liquidar o Econômico, controlado pelo ex-ministro Calmon de Sá e de um Estado, a Bahia, que tem no senador Antônio Carlos Magalhães -aliado do governo- seu principal líder político.
Existe também a preocupação com a imagem do Plano Real. O governo não quer que o programa de estabilização seja visto como recessivo ou gerador de quebradeiras -falência de empresas e acelerador das dívidas das pessoas físicas (mutuários, por exemplo).
Para o Ministério da Fazenda, a liquidação de bancos foi necessária nos primeiros meses de 95 para que o governo FHC desse uma demonstração ao mercado de que as instituições financeiras precisavam se adaptar à queda da inflação.
Agora, este mecanismo será evitado ao máximo pelo governo, sobretudo porque o Banco Central prevê que grandes grupos empresariais enfrentarão sérias dificuldades financeiras ao longo do segundo semestre.
O Ministério da Fazenda não tem dúvidas de que outras empresas terão de pedir concordata (mecanismo jurídico que possibilita a negociação de novos prazos de pagamento das dívidas junto aos credores) nos próximos meses.
Um dos principais motivos desta projeção é a necessidade de conservar as taxas de juros ainda em patamares altos ao longo de 95. Isto encarece os custos financeiros das empresas. O BC defende alívio significativo nas taxas de juros só a partir de 96.

Próximo Texto: Rigor contábil; Pelo telefone; Quem micou; Problema de liquidez; Com turbulência; Outros ares; Apesar da contenção; Como previsto; Ecos do racha; Outro foro; Compasso de espera; Revendo a decisão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.