São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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Primeiros passos

DA "NEW SCIENTIST"

Mas elaborar listas de espécies ameaçadas é apenas metade da batalha, diz Mace. "As listas seriam o primeiro passo. Você tem que estar certo de que esse passo inclui tantas espécies quanto seria razoável desejar.
O próximo passo é decidir quanto tempo e esforço cada espécie merece. "Você precisa ser bem preciso sobre o que quer maximizar, diz ela.
Por exemplo, os conservacionistas deveriam apenas salvar tantas espécies quantas sejam possíveis, começando pela que estiver em maior perigo, ou algumas espécies seriam mais valiosas que outras?
No campo ético, muitos biólogos sustentam que cada espécie tem igual direito a sobreviver e que o homem não tem o direito de favorecer uma ou outra. Outros argumentam que animais maiores e mais inteligentes têm um apelo maior para o interesse humano.
"Eu não posso concordar que uma planária (verme do mesmo grupo da solitária) ou um copépode (crustáceos microscópicos) tem o mesmo valor que um elefante ou um gorila, diz William Conway, diretor-geral da WCS (Wildlife Conservation Society), em Nova York (EUA).
Animais maiores normalmente representam papéis ecológicos mais importantes, diz ele. Por exemplo, o fato de elefantes pisarem na vegetação ajuda a manter as clareiras usadas por muitos outros animais.
Mas nem toda espécie importante é grande, diz Conway. Formigas, cupins e insetos polinizadores também podem representar papéis-chave em seus ecossistemas e merecem igual atenção.
Algumas vezes, uma espécie também pode ser singularizada pela sua importância evolutiva. Os sapos com cauda, que vivem na costa oeste da América do Norte, por exemplo, são os únicos membros vivos de todo um ramo da árvore evolucionária dos sapos. Sua extinção produziria um vazio muito maior que a de uma subespécie.
Muitos cientistas argumentam que animais grandes, como tigres e corujas, merecem especial atenção porque os esforços de conservação direcionados a espécies "marcantes normalmente resultam na conservação de diversas espécies menores.
"Você está procurando por efeitos multiplicadores, diz John Robinson, diretor de programas internacional de conservação da WCS.
Mas decidir que espécies estão ameaçadas não ajudará de nada, a menos que os conservacionistas também possam traçar uma estratégia que os ajude a sobreviver.
Além da idéia de reprodução em cativeiro, a maioria dos programas de conservação protegem habitats inteiros, não espécies individuais. Muitos conservacionistas afirmam que os próprios ecossistemas, e não suas espécies componentes, deveriam ser o alvo dos esforços.
Além do mais, diz Robinson, "se nós estivermos interessados apenas na preservação do tigre, deveríamos reproduzi-los em zoológicos. Mas nós estamos realmente interessados em preservar a área selvagem onde vivem os tigres.
Conservar os habitats ao invés de espécies individuais oferece várias vantagens.
Quando um governo define uma região como um parque ou reserva, ele preserva tudo que estiver nele -mesmo organismos obscuros que os cientistas ainda não tenham identificado.
A destruição de habitats é um fator que coloca em risco espécies que não estavam ameaçadas, portanto salvar habitats seria o coração do conservacionismo. Uma aproximação centrada nos habitats permitiria aos conservacionistas atuar logo, protegendo espécies antes que elas toquem o alarme de risco de extinção.
Paradoxalmente, a estratégia de preservar um portfólio de diferentes tipos de habitat sugere que os conservacionistas deveriam gastar pelo menos um pouco do seu tempo e dinheiro em habitats como a floresta boreal do Canadá, cujo risco de erradicação é mínimo.
Ainda que os críticos digam que dar alta prioridade a esforços como esse simplesmente gastaria recursos escassos, isso poderia salvar espécies ameaçadas em algum outro lugar, afirma Kent Redford, diretor da divisão para a América Latina da organização conservacionista Nature Conservancy.
Ele prefere encarar isso como um remédio preventivo. "Você quer manter sadias as pessoas sadias ou você só quer tratar as pessoas doentes? A maneira de pensar atual é como se estivesse destinando todos os meus recursos para salas de emergência, diz.
Distribuindo prioridades de maneira abrangente, os conservacionistas poderiam também criar novas formas de financiamento, diz Mittermeier.
Por exemplo, agora que a floresta do Chile surgiu como uma prioridade, o governo chileno poderia destinar mais dinheiro para sua conservação.
Analogamente, há o caso da África do Sul, que tem um dos ecossistemas mediterrânicos mais diversificados do mundo. "Quanto mais reconhecimento você dá para isso, mais provável é que a própria África do Sul dê atenção. E eles têm dinheiro, diz Mittermeier.
A nova estratégia tem apenas alguns anos. Ainda é necessário ver se ela funciona na prática. Mas uma coisa parece ser certa. Independentemente de como os conservacionistas definam suas prioridades, muito trabalho duro ainda deve ser feito.
"Não há uma maneira para se vencer a batalha do conservacionismo, diz Conway. "O segredo do sucesso é a constante inovação, sempre encontrando novas soluções para novos problemas.
Tradução de Paulo Fernando Silvestre Jr.

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