São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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TV pública educa crianças dos EUA

HILLARY RODHAM CLINTON
HILLARY RODHAM CLINTON

Você tem assistido televisão ultimamente durante o dia? Pouco tempo atrás dei uma olhada por vários canais enquanto fazia meus exercícios, e o primeiro programa com que topei era sobre adolescentes rebeldes e suas mães.
Outra emissora apresentava um programa sobre mulheres que usam homens para ganhar dinheiro. E numa terceira, o programa era sobre pessoas que acreditam que seus pensamentos são controlados por alienígenas.
Fiquei chocada. Mas então encontrei refúgio com Garibaldo.
Para muitos pais e mães em nosso país é tranquilizador saber que por mais sensacionalista, violento ou lasciva tenha se tornado a programação diurna de nossas televisões, ainda existe um oásis para as crianças. Esse oásis se chama televisão pública.
A verdade é que minha filha (Chelsea) é fã da ``Vila Sésamo". Quando ela era mais jovem, assistíamos ao programa juntas e líamos os livros que acompanhavam os programas.
Com o passar dos anos, meu marido e eu pudemos constatar que Garibaldo, Ênio, Beto e Gugu a haviam ajudado a escrever corretamente, fazer contas e, o que talvez seja igualmente importante, apreciar a riqueza cultural do país.
Mas a experiência de minha família não é a única razão pela qual me preocupo com os ataques feitos recentemente à televisão pública.

Onipresença
Não há como fugir da realidade da televisão como influência onipresente nas vidas de todos nossos filhos -influência esta que pode exercer um impacto significativo, positivo ou negativo, sobre seu desenvolvimento social e intelectual.
Uma amiga me contou recentemente sobre uma ocasião em que sua filha voltou para casa, depois de passar o primeiro dia na escola, e estava tão excitada que falava sobre a escola sem parar.
Depois de contar a seus pais tudo que havia acontecido, ela se sentou diante da televisão e contou tudo ao senhor Rogers também. Você pode imaginar aquela criança fazendo a mesma coisa com um dos Power Rangers?
A história dessa garotinha nos ajuda a compreender melhor as últimas pesquisas. Esses estudos mostram que crianças que assistem programas como ``Vila Sésamo", ``Barney" e ``Mister Rogers Neighborhood" estão mais preparadas para aprender, quando chegam na idade de entrar no pré-primário, do que aquelas que assistem apenas à TV comercial.
A leitura começa a fazer parte de suas vidas desde cedo, assim como os números, as idéias e uma imaginação rica e variada.

Potencial
Os pesquisadores descobriram que crianças de dois a cinco anos de idade, oriundas de famílias de baixa renda, que assistem a uma quantidade pequena de programas educativos, têm resultados significativamente melhores nos testes de potencial de leitura, vocabulário, raciocínio matemático e preparo geral para a escola.
Já as crianças que passam o mesmo tempo assistindo a desenhos animados não-educativos e programas adultos não se mostram igualmente preparadas para o aprendizado na escola.
Pouco tempo atrás Sonia Manzano, conhecida por milhões de crianças como Ana Maria em ``Vila Sésamo", veio à Casa Branca falar sobre televisão educativa.
Ela descreveu como foi sua infância, passada no Bronx, como uma criança hispânica que nunca via na TV alguém que se parecesse com ela ou falasse como ela.
``Sei que se uma criança passa sua vida sem se ver refletida na sociedade -o que significa, principalmente, na televisão- isso é muito desgastante para ela", disse Manzano.
Ela afirmou que programas infantis como ``Vila Sésamo" oferecem a todas as crianças em nossa sociedade um sentimento de fazer parte da sociedade, e modelos positivos nos quais podem espelhar-se.
Esses programas são especialmente benéficos para crianças de famílias de baixa renda, que frequentemente não dispõem de outras oportunidades de estímulo intelectual.
O canal de televisão pública é a única fonte de programas infantis educativos disponível para cerca de um terço das famílias norte-americanas, que não têm acesso à televisão a cabo ou não têm condições de pagá-la.
E aposto que a maioria dos norte-americanos ficaria surpresa em saber que a maior parte da audiência da televisão pública está entre as famílias que têm renda anual inferior a US$ 40 mil. São as crianças dessas famílias que mais se beneficiam com a televisão pública.
Não pretendo sugerir que a televisão pública seja uma panacéia. É evidente que nós, pais e mães, precisamos assumir a responsabilidade de desligar a televisão com mais frequência e de fiscalizar os programas que nossos filhos assistem.
E podemos fazer mais, enquanto sociedade, para ajudar nossas famílias a enfrentar esse desafio. Para isso, o que pode ajudar é um sistema de classificação etária e o ``v-chip" que está sendo proposto, que pode bloquear a transmissão de programas violentos em cada casa.
Mas não devemos nos iludir. Em uma cultura como a nossa, tão dominada pela televisão, a programação infantil não é um luxo desfrutado por poucos privilegiados. Para dezenas de milhões de famílias norte-americanas, é uma necessidade.
Tradução de Clara Allain

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