São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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Uma verdadeira fábula

DALMO MAGNO DEFENSOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Famosa pela paisagem exuberante e atmosfera mística, a região mineira do Caraça atrai muitos sensitivos e cadernos de turismo.
É indicada também para almas atormentadas como Isabela, de "A Próxima Vítima", que ali poderia encontrar paz na comunhão com a natureza.
Montanhoso, repleto de grutas, regatos e cascatas, o local igualmente se presta às poéticas matérias da repórter global Ilze Scamparini, que fala por versos como os índios de Gonçalves Dias.
Caminhando por uma trilha, um viajante, conhecido de quem me contou a história, assobiava uma adequada canção floral de Enya, e meditava sobre a dupla irrelevância do ser humano, diante do universo e da política monetária.
Súbito, passou correndo em sentido contrário, veloz como um gamo em fuga, um vulto azulado do tamanho de um garotinho.
A princípio, o viajante julgou tratar-se de um mitológico habitante da floresta; mas, tendo se voltado e o visto pelas costas, deduziu que um duende não estaria usando a camisa 9 do Cruzeiro; logo, era mesmo um garotinho.
Sabendo que tudo neste mundo tem um sentido, exceto a ausência de Marcelinho Carioca na seleção, o viajante cuidou de decifrar o significado daquele encontro.
Com esse objetivo, elevou seu pensamento; este, porém, mal subira um palmo, foi derrubado por uma voz estridente. Era a enfurecida mãe terrena do garoto, que o perseguia aos gritos, com pronúncia peculiar: "Fábio Rúúúnior! Ô Fábio Rúnior, volte aqui, seu moleque!".
O brutal reencontro com a influência das novelas, num lugar que supunha imune às ondas de TV, deve ter feito o viajante sentar-se sobre uma pedra e chorar um rio; pois ele não soube contar se a mãe de Fábio Jr. alcançou o menino para lhe dar uma sova; e muito menos qual peraltice o pequeno galã silvestre havia aprontado, para fugir dela com tanto entusiasmo.

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