São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 1995
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Teen negra gosta mais do corpo que branca

RONALDO SOARES
DA REPORTAGEM LOCAL

``Black is beautiful"! O bordão que marcou a luta pelos direitos civis dos negros norte-americanos, a partir da década de 60, continua atual 30 anos depois.
Pelo menos entre as adolescentes negras, mais do que nunca ``o negro é lindo". Elas gostam mais da própria aparência do que as teens brancas.
Estudo da Universidade do Arizona (EUA) mostra que 90% das adolescentes brancas estão infelizes com o corpo. Já 70% das negras estão satisfeitas com o que têm. As negras acham que é melhor ter uns quilinhos a mais e, na opinião delas, a mulher fica mais bonita à medida que envelhece.
Já as teens brancas não apresentam surpresas: todas querem ser Kate Moss -modelo inglesa muito magra.
O resultado é bem parecido aqui no Brasil: 13% das negras estão muito satisfeitas com a aparência -9% das brancas pensam o mesmo de si-, como mostra pesquisa do Datafolha (veja quadro abaixo).
A nutricionista Sheila Parker, 50, uma das organizadoras da pesquisa americana, disse que a preocupação com o peso entre as teens brancas nos EUA é doentia.
``Muitas ficam com câncer de tanto fazer dieta ou fumar para controlar o peso", diz. Já as negras, encaram a beleza como uma ``questão de atitude. Procuram ver algo em si de que gostem".
No Brasil, a mulata de formas esculturais está deixando de ser modelo para as teens negras. Ou seja, elas também começam a achar os quilinhos a mais e os penteados diferentes, charmosos.
Para Paula Lima, 24, vocalista do grupo Unidade Bop, os negros procuram se afirmar através de uma estética própria. ``A gente inventa penteados novos, por exemplo, e se sente bem assim", diz.
Cristina Batista, 22, do grupo Lady Rap, acha que as negras brasileiras aprenderam a ``se achar bonitas como são". ``O nariz largo é um charme. Ter lábios carnudos e bunda grande é legal."
Essa ``mudança", segundo ela, foi trazida pelo rap. ``O rap tem um papel fundamental para a juventude negra, que é o de levantar a auto-estima", diz.
Segundo Paula, essa ``atitude" tem um preço. ``É um visual que as pessoas não estão acostumadas a ver. Às vezes dá uma sensação de ser uma planta exótica num jardim comum."

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