São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 1995
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Ridley Scott é rei da era de Méliès

Diretor é atração em festival espanhol

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Se dependesse do público, o século do cinema não seria a idade de Lumière, mas a era de Méliès, o mago francês que fundou o cinema fantástico. O preconceito continua a vitimar o gênero. Basta ver a ausência de seus representantes nas listas de melhores filmes da história.
O Festival Internacional de Cinema Fantástico de Sitges (Espanha), um dos principais da categoria, resolveu revidar, em sua 28º edição, que acontece entre 7 e 14 de outubro próximo. Para celebrar o centenário, Sitges convidou o público e os críticos presentes ao festival do ano passado a indicar seus 25 filmes prediletos do gênero. Os cem mais estarão na mostra ``Um Século de Fantasia".
Justiça histórica, Georges Méliès é o campeão de indicações com ``Viagem À Lua" (1902), onde todo o cinema de ficção científica começou. ``Blade Runner, Caçador de Andróides" (1982), de Ridley Scott, vem a seguir, reafirmando seu status de ``cult movie" contemporâneo ainda insuperado. ``2001, Uma Odisséia no Espaço" (1968) confirma na terceira posição o impacto da revolução kubrickiana.
``King Kong" (1933), o monstro fílmico inigualado, vem em quarto e ``Metropólis" (1926) de Fritz Lang, a maior distopia do período mudo, em quinto. A sensualidade mórbida do ``Nosferatu" (1922) de Murnau confirma seu fascínio em sexto, seguido pelo George Lucas de ``Guerra Nas Estrelas" (1977), marco da explosão do cinema de efeitos especiais. Em oitavo lugar, ``Psicose" (1960) consagra-se como o pesadelo hitchcockiano definito. A seguir, ``Freaks" (1932) de Tod Browning continua a desconcertar com sua humanidade atípica. Por fim, Scott emplaca um segundo título com o horror espacial de ``Alien" (1979).
O triunfo de Scott prova o sucesso da aplicação do gótico britânico à hiperprodução pós-moderna americana. Dois outros cineastas ingleses com carreiras americanas confirmaram a eficácia da fórmula, mesmo em períodos anteriores, ao liderarem o ranking dos diretores mais citados, com três filmes na lista: Alfred Hitchcock (``Psicose", ``Os Pássaros" e ``Um Corpo Que Cai") e James Whale (``A Noiva de Frankenstein", ``Frankenstein" e ``O Homem Invisível").
A prática no gênero parece ser um dos segredos do sucesso (quinze cineastas aparecem com dois ou mais títulos).
Os primeiros filmes das séries, de ``Psicose" a ``Batman", são sempre os preferidos. O mesmo vale para os originais frente aos ``remakes" (``Nosferatu", ``A Mosca"). O expressionismo alemão, com suas sombras e distorções, é dos períodos mais influentes.
Uma das surpresas da lista é a tímida presença de mestres contemporâneos do cinema fantástico, como James Cameron, David Cronenberg e Steven Spielberg -este lembrado por ``Contatos Imediatos de Terceiro Grau" (1977) e não por ``E.T."(1980)! Nenhum filme brasileiro ou mesmo latino-americano marca presença. Esqueceram Zé do Caixão -ou ``Coffin Joe". Está na boa companhia do redescoberto Ed Wood.

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