São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 1995
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'Os Pescadores de Pérolas' é entediante

WILLIAM LI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Com aproximadamente metade de seus lugares ocupados, estreou na sexta-feira passada a ópera ``Os Pescadores de Pérolas" de Georges Bizet, que não foi recebida com muito entusiasmo pelo público. Muita gente saiu decepcionada e entediada.
Mas isso não se deveu à excelente atuação da Orquestra Experimental de Repertório, nem à qualidade dos cantores e muito menos à excepcional cenografia da ópera. Toda a produção esteve ótima. Mas o tédio apossou-se do público que assistiu ``Os Pescadores de Pérolas".
Isso porque, a rigor, não se trata de uma ópera. Composta quando Bizet tinha apenas 25 anos, já foi um fracasso na sua primeira estréia em Paris em 1868. Ela é na realidade um teatro recitado com música. Para começar, esta ópera quase não tem árias (solos). Todo o desenrolar da história se dá através de recitativos e coros. Os solistas não têm chance de desenvolver melodias. A maior parte dos diálogos ou monólogos é de recitativos enfadonhos.
A música pode ser tecnicamente boa quanto à harmonia, contraponto, orquestração etc. Mas ela não fala ao coração, não comove, não mexe com a alma. Falta o essencial.
É pena, pois a produção está primorosa. A Orquestra Experimental de Repertório, regida por Jamil Maluf, mostrou grande coesão e afinamento. Os solistas desempenharam bem seus papéis. E principalmente a cenografia e encenação são deslumbrantes, com jogos de luzes azuis representando o fundo do mar e pescadores que mergulham (voam) no palco. Foi todo esse trabalho que o público aplaudiu ao final do espetáculo, e não a ópera em si. Enfim, de gosto não de discute. Mas é um desperdício de talentos e trabalhos encenar uma ópera tão ruim.

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