São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 1995
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Cypress Hill se prepara para tocar em SP

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

O grupo de rap Cypress Hill ganhou notoriedade por suas letras pró-maconha. Em entrevista à Folha por telefone, de Los Angeles, o rapper B-Real disse já ter ouvido falar na banda carioca Planet Hemp, que abre os shows do Cypress em São Paulo -dias 28 e 29 no Olympia.
Cypress Hill foi o destaque do festival itinerante Lollapalooza 95, que acaba sexta nos EUA.
Seu último LP, ``Black Sunday" (1993), estreou em primeiro lugar na parada da ``Billboard". É um dos discos mais vendidos do rap. Em outubro, sai o terceiro, ``Cypress Hill 3".
Mas o grupo também é popular entre o público de rock, graças a shows e gravações em parceria com as bandas Sonic Youth, Pearl Jam e Biohazard.
Seus integrantes não são os rappers típicos. Sen Dog nasceu em Cuba. B-Real descende de mexicanos e cubanos. DJ Muggs, de Nova York, é um dos produtores mais requisitados do rap.
Folha - Por que a maconha se tornou tão proeminente no rap?
B-Real -As pessoas receavam o tema, porque temiam ser chamadas de viciadas. Depois que a gente assumiu que fuma, ficou mais fácil para outros dizerem o mesmo. Agora, muitos acham que maconha é a última moda e vão ganhar uma nota se aderirem.
Folha - É uma referência ao rapper Dr. Dre?
B-Real -Quando Dr. Dre estava no grupo NWA (1988-90), dizia que não fumava erva, porque ela estragava o cérebro. Agora, diz que fuma e tem um álbum chamado ``The Chronic" (gíria para maconha forte). Isto é hipocrisia.
Folha - O que você acha de o cigarro ser considerado uma droga e ter a sua venda proibida para menores nos EUA?
B-Real - Eu não fumo cigarro. Odeio cigarro. Mas não acho que seja certo impedir as pessoas de fazerem o que querem.
Folha - ``Black Sunday" foi o precursor do gênero de rap conhecido como ``horrorcore" (inspirado em filmes de horror)?
B-Real -Estávamos à frente. Mas não combinamos o cemitério da capa e a atmosfera sombria das músicas de forma intencional. Só que todos nos copiaram.
Folha - Cypress Hill, House of Pain, Digable Planets e Fugees são grupos formados por imigrantes ou descendentes. O rap americano virou multicultural?
B-Real - Sempre foi multicultural, só que a mídia insiste em tratá-lo como um movimento exclusivamente negro. Os irmãos latinos tiveram papel ativo desde o início. Foram imigrantes de Cuba e Porto Rico, ao lado de jamaicanos, que criaram o rap.
Folha - Como está a campanha contra o ``gangsta" (rap sobre violência), que ameaça criar legislação de censura nos EUA?
B-Real - Péssima, porque o rap não tem nada a ver com a violência das ruas. Dizer que a violência começa com o rap é ridículo.
Como você acha que este país foi tomado? Chacinaram os índios, mataram os mexicanos. A violência gerou a América. A terra dos bravos.
Folha - Como o Cypress escapou de ser rotulado ``gangsta"?
B-Real -``Gangsta rap" é uma ficção criada pela mídia. A gente não se enquadra nessa fantasia. Fomos gângsteres de verdade. Os verdadeiros gângsteres não perdem tempo para te mostrar que são gângsteres.

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