São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 1995
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O caráter de cada qual

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - O escândalo do Banco Econômico tem, ao menos, o mérito de deixar exposta com toda a nitidez a face de alguns dos grandes atores políticos. A saber:
1 - A fatia politicamente mais relevante do liberalismo brasileiro mostra, mais uma vez, que só é liberal quando estão em jogo os interesses e os empregos alheios.
Reclama da lentidão na privatização, quando conduzida por um ministro (José Serra, do Planejamento) que não é santo da devoção do liberal-pefelismo.
Mas, quando se trata de seus próprios interesses, corre ao papai Estado com uma ânsia de fazer inveja à mais stalinista das esquerdas. E consegue que, em vez de se privatizar um ente estatal, se estatize um ente privado. É fantástico.
2 - O senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) demonstra, uma vez mais, que a única característica indelével de sua personalidade é a truculência.
Tentou ganhar no berro da jornalista Mônica Waldwogel (SBT), cujo crime foi fazer a pergunta certa para o homem certo.
Afinal, você, leitor, que palavra usaria, se não chantagem, para descrever a ação de alguém que diz ter informações comprometedoras, ameaça divulgá-las e depois as arquiva, obtido o que reivindicava?
Além de chantagem, é também crime esconder do público informações supostamente relevantes sobre irregularidades na administração.
3 - O governo, mais uma vez, define o lado que escolheu. No confronto com os petroleiros, afinal meros trabalhadores, descumpriu acordo assinado e tratou de humilhá-los. Ante o baronato, deixa-se humilhar.
É assim desde que o Brasil é Brasil, com os resultados conhecidos. Tudo o que os governos do baronato ou apoiados pelo baronato produziram foi um país obsceno, quinto lugar no campeonato mundial de corrupção, primeiro do mundo em concentração de renda.
Só resta agora, com mínimas esperanças, torcer para que mais este governo apoiado pelo baronato não termine com os demais. Ou seja, com o inaceitável status-quo intocado.

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