São Paulo, sábado, 19 de agosto de 1995
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Dívida interna cresce 18,3% em julho

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A dívida interna do governo federal, na forma de títulos públicos, explodiu no mês passado. Saltou de R$ 69,493 bilhões, em junho, para R$ 82,223 bilhões. O aumento é de 18,3%.
O valor equivale ao preço estimado da Companhia Vale do Rio Doce (ou cerca de R$ 12,73 bilhões) ou ao dobro do que o ministro Adib Jatene (Saúde) espera arrecadar por ano com um novo imposto sobre contribuições financeiras -cerca de R$ 6 bilhões.
Parte deste crescimento se deve ao socorro que o Banco Central prestou ao sistema bancário.
No final de julho estes empréstimos somavam R$ 2,784 bilhões -um recorde histórico. Só com o Banco Econômico, o gasto beirou R$ 1,4 bilhão.
Para tirar esse dinheiro em excesso da economia -o que pressionaria a inflação para cima- o BC foi obrigado a vender títulos ao mercado financeiro.
Mas o principal motivo da explosão da dívida federal foi a enxurrada de dólares que entraram no país atraídos pelos juros internos, um dos mais altos do planeta.
A compra destes dólares fez o BC emitir R$ 7,017 bilhões -que também foram "enxugados" com títulos.
A dívida mobiliária -como é chamado este gasto interno- é hoje a maior ameaça ao equilíbrio das contas públicas e ao Plano Real. Os pagamentos dos juros da dívida fizeram o Tesouro registrar déficit no mês passado.
Não se trata de um problema exclusivo do governo federal: a dívida mobiliária -em títulos- dos Estados e municípios já cresceu 72,3% desde o lançamento do Real.
A política de juros altos promovida pelo governo para conter o consumo e a inflação no curto prazo é a mola propulsora do mecanismo que faz crescer a dívida.
Em primeiro lugar, as dívidas federais, estaduais e municipais crescem diariamente, mesmo sem novas emissões de títulos, porque os títulos já vendidos ao mercado financeiro rendem juros.
As taxas internas -que chegam a 60% ao ano- atraem o capital especulativo externo, que em países desenvolvidos mal consegue rendimentos de 10% anuais. A entrada de dólares e a consequente emissão de reais obrigam o lançamento de novos títulos.
Por fim, o crescimento da dívida pode gerar pagamentos de juros superiores ao caixa do governo, como aconteceu em julho. Neste caso, o Tesouro vira emissor de moeda para cumprir os pagamentos -e a emissão tem que ser enxugada com novos títulos.
Em julho, o déficit do Tesouro resultou em emissão de R$ 1,128 bilhão no final do mês. Foi o maior déficit mensal desde o Real.
Mesmo com a emissão dos títulos, o volume de dinheiro em circulação na economia cresceu acima da inflação em julho. Entre os últimos dias úteis de junho e julho, o volume passou de R$ 13,943 bilhões para R$ 15,034 bilhões -ou 8%.
Se for considerada a média diária de cada mês, o crescimento percentual foi menor: de R$ 14,666 bilhões para R$ 15,382 bilhões, ou 5%.

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