São Paulo, sábado, 19 de agosto de 1995
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Câmara investiga ação do DNER em tortura

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara está apurando a denúncia de que o DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem) em Marabá (PA) serviu como centro de tortura e cemitério clandestino dos guerrilheiros do Araguaia de 1972 a 1974.
A guerrilha do Araguaia foi um movimento armado realizado no sul do Pará e norte do Tocantins por militantes do PC do B (Partido Comunista do Brasil). Vários militantes foram mortos em operações das Forças Armadas, mas seus corpos nunca foram localizados.
Os nomes de 60 pessoas mortas no Araguaia constam da lista de 136 desaparecidos políticos no regime militar. A lista deve ser incluída no projeto do governo para pagamento de indenizações às famílias dos desaparecidos.
O presidente da comissão, Nilmário Miranda (PT-MG), disse que os nomes dos informantes sobre os cemitérios clandestinos devem ser mantidos em sigilo. Segundo ele, os informantes serão procurados pela comissão especial que vai ser criada para localizar os despojos dos desaparecidos.
``Acho que o próprio Exército tem interesse em esclarecer isso para ajudar a esclarecer essa parte da história", disse Miranda.
Um ex-funcionário do DNER, desenhista profissional, elaborou um croquis das instalações em Marabá e apontou o local do cemitério clandestino.
Desde que seu nome seja mantido em sigilo, ele disse que está disposto a ajudar a comissão a localizar os restos mortais dos guerrilheiros.
O desenhista é amigo do militar Ruiderval Moura, do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Distrito Federal, filho do barqueiro Lourival Moura, preso em 1972 sob a acusação de ajudar guerrilheiros. Ele apareceu morto em sua cela em Xambioá (TO).
O desenhista afirmou à comissão que atualmente devem existir no local apenas alguns pedaços de ossos, porque durante esse tempo o rio Itaicaiúnas (PA) encheu e inundou o local várias vezes.
Outro funcionário do DNER na época, o telegrafista aposentado Walter Moraes, disse à Folha, por telefone, que durante dois anos era comum ver no local helicópteros do Exército aterrissando na área com prisioneiros encapuzados.
``Eles levavam os prisioneiros para um barracão, onde eles eram fotografados. Alguns a gente viu voltando para os helicópteros. Outros, não", disse.
O executor do Incra em Marabá, José Líbio Matos, disse desconhecer qualquer história a respeito.

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