São Paulo, sábado, 19 de agosto de 1995
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Em defesa da Bahia e do Nordeste

GERSON GABRIELLI

O Banco Econômico, por tudo o que representa para a economia da Bahia e do Nordeste, merece, sim, receber do governo federal o mesmo tratamento dado ao Banespa e ao Banerj, com base na lei 2.321/87, que prevê o regime de administração especial temporária nos casos de intervenção em instituições financeiras, estatais ou privadas.
O Econômico, a Bahia e o Nordeste não podem ser discriminados. Ao contrário, a economia da região deve ter total apoio para que as distorções econômicas e sociais existentes não sejam ainda mais aprofundadas.
A intervenção do Banco Central foi executada de forma violenta e prepotente. Prova da forma irresponsável com que o BC conduziu o processo é que poucos dias antes da intervenção o BC aprovou o balanço do Econômico, apontando um lucro de R$ 38 milhões.
O Econômico é o mais antigo banco privado da América Latina, com 161 anos. O funcionamento normal do banco é indispensável à produção industrial, comercial e agropecuária não só da Bahia, mas do Nordeste. O Econômico tem 10.200 funcionários e cerca de 800 mil correntistas, dos quais 400 mil estão na Bahia.
É o único banco privado baiano e o oitavo maior do país. Detém 40% dos ativos financeiros do Norte e Nordeste. É responsável por larga parcela da arrecadação do ICMS e faz com exclusividade o pagamento dos 15 mil pensionistas da Previdência do Estado. Seu fechamento refletiria negativamente em 70% da economia baiana. O banco detém com exclusividade contas de 100 mil depositantes, entre eles as Obras Sociais de Irmã Dulce, hospitais, entidades várias, escolas e universidades.
Além disso, 54 mil empresas mantêm contas-salário no Econômico, somente em Salvador, incluindo a prefeitura. Desse total, 25 mil empresas ficariam sem ter como pagar seus funcionários uma vez que mantêm suas contas-salário unicamente no Econômico.
A importância desse banco para a economia estadual pôde ser comprovada nas manifestações de repúdio à intervenção, que uniram intelectuais do porte de Jorge Amado, empresários, cidadãos comuns, sindicalistas e militantes de partidos historicamente adversos.
Penso que o governo estadual não tem qualquer interesse em ser proprietário de um outro banco que não seja o Baneb. O que pretendemos é que o Econômico passe o mais rápido possível para a iniciativa privada e volte a ter vida normal, como instrumento valoroso para a economia do Estado.
Mas, para que a luta do governo do Estado, do senador ACM e da bancada baiana no Congresso alcance êxito, é preciso que a Bahia se mantenha unida em torno da solução encontrada.
Teremos um caminho difícil, por isso precisamos da confiança da população, principalmente dos depositantes, mantendo no banco seus investimentos, com a certeza de que os resultados virão com as medidas a ser adotadas.
Restabelecer a normalidade é tudo o que nós baianos precisamos, atingidos como todos os brasileiros pela opção de risco feita pelo governo federal de alcançar a estabilidade via uma tola recessão causada por uma política equivocada de confisco através dos compulsórios dos bancos e de absurdos juros altos.
As dificuldades econômicas vêm gerando o fechamento de empresas e agravando o drama social. Somadas à possível liquidação do Econômico, seriam letais para a economia nordestina.
A liquidação não pode ocorrer. O Banco Econômico não pode fechar. Senhor presidente da República, senhor presidente do Banco Central, devolvam o Banco Econômico ao povo da Bahia.

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