São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995 |
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Rumo à neuroinformática
DANIELA FALCÃO
O governo norte-americano está investindo US$ 6 milhões por ano no programa, que recebeu o nome de Human Brain Project (Projeto Cérebro Humano). Segundo Michael Huerta, coordenador do programa e representante do Nimh (National Institute of Mental Health), em 15 anos o software estará disponível a pesquisadores e estudantes de pós-graduação. ``Estamos colocando os maiores experts em computação ao lado de cientistas que têm trabalhos de destaque em pesquisa cerebral. Quando o software ficar pronto, os estudos nessa área darão um salto sem precedentes", afirmou Huerta à Folha . Segundo ele, os cientistas envolvidos no projeto estão desenvolvendo uma nova área de estudo, chamada ``neuroinformática", que permitirá que os resultados de análises comparativas entre cérebros sejam muito mais precisos e cheios de detalhes. Para Huerta, a neuroinformática também permitirá a simulação de experimentos no computador sem que seja necessário realizá-los na prática. ``Veja um exemplo: um pesquisador realiza experimento sobre as propriedades eletrônicas da membrana celular e coloca os resultados no computador. Um outro membro da rede poderá usar esses dados para simular o que aconteceria se proteínas fossem injetadas na membrana, sem ter que reproduzir a experiência em laboratório." Segundo Huerta, a simulação de experimentos será uma ``enorme economia de tempo e dinheiro". Para o pesquisador, o desenvolvimento do software permitirá ainda que pesquisadores de países tão distantes quanto os Estados Unidos e a Nova Zelândia trabalhem no mesmo projeto sem ter que sair de seus laboratórios. ``Isso será possível através da Internet. Daqui a dez anos, quando o software estiver pronto, a comunicação via Internet será feita com muito mais rapidez", disse à Folha , por telefone, da sede do Nimh, em Maryland. Folha - Além do Nimh, quais são as principais organizações que participam do Human Brain Project? Michael Huerta - A Nasa, a National Science Foundation e o National Health Institute são parceiros muito importantes. O departamento de energia e o departamento de defesa também estão bastante envolvidos no projeto. Folha - O sr. disse que o estudo comparativo de cérebros ficará mais preciso com o software. Como se chegará a isso? Huerta - Com a utilização de imagens tridimensionais poderemos comparar a mesma área de cérebros de tamanhos diferentes com absoluta precisão. Para entender melhor, pense nos cérebros como se fossem uma bola de tênis e outra de golfe. Com o novo software, poderemos inserir a bola de golfe dentro da de tênis, possibilitando uma comparação que leve em consideração as diferentes proporções entre os cérebros, sem que nenhum deles perca suas propriedades originais. Folha - Algum centro de pesquisa já usa essa técnica hoje? Huerta - Que eu saiba, pesquisadores da Universidade da Califórnia e da Universidade do Texas, em San Antonio, estão tentando usar a computação gráfica para que as comparações entre cérebros sejam mais fidedignas. Mas nada da proporção do nosso projeto. Folha - O sr. também afirmou que, com o software, será possível simular experiências no computador em vez de realizá-las em laboratório. Há como assegurar que o resultado da simulação corresponda à realidade? Huerta - Claro. Se resultados de dois experimentos distintos forem colocados num mesmo espaço eletrônico, poderemos simular uma terceira experiência que una as duas anteriores, sem necessidade de repetir todo o processo em laboratório. Os dados estão armazenados. Tudo o que o computador faz é cruzar os resultados para criar uma terceira situação, igual à que aconteceria se a experiência fosse realizada empiricamente. Folha - Além de tornar a análise comparativa mais precisa e de possibilitar a simulação de experimentos, que outras vantagens o software trará? Huerta - Hoje se perde muito tempo para conseguir uma informação porque, para chegar até ela, é necessário percorrer vários degraus que serão inúteis para o resto da pesquisa. Com o software, o pesquisador vai poder chegar ao topo da escada sem ter que percorrer todos os degraus. Outra vantagem é que criaremos um super banco de dados. Muito material vem sendo desperdiçado porque não chega a ser publicado por julgarem-no irrelevante. Mas o que é irrelevante para um pesquisador pode ser decisivo para outro. Folha - Qual é o público do projeto e quais avanços que o sr. acredita que acontecerão após a adoção do software? Huerta - A princípio, nosso público são cientistas e estudantes de pós-graduação. Mas com algumas adaptações básicas, o software poderá ser utilizado até por alunos de segundo grau, nas aulas de biologia. Quanto aos avanços, são imprevisíveis. Não posso dizer que acharemos a cura para o mal de Alzheimer, mas posso dizer com certeza que todas as tentativas de curas para doenças ligadas ao cérebro terão grande avanço. Texto Anterior: ARQUITETURA DA MENTE Próximo Texto: Conheça as novas pesquisas Índice |
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