São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995 |
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Público acha que Globo apóia FHC
ARMANDO ANTENORE
A conclusão, do Datafolha, explica em parte por que a maior rede do país decidiu reformular seu jornalismo -processo que começou há um mês com a demissão do diretor Alberico de Sousa Cruz, responsável pelos noticiários da casa. Nos dias 4 e 5 de maio, pesquisadores do instituto saíram às ruas de São Paulo perguntando qual a rede de televisão mais favorável a FHC. Foram entrevistadas 1.080 pessoas, nenhuma menor de 16 anos. A Globo fica com 55% das respostas. Bem abaixo, aparece o SBT, com 12%. Cultura e Bandeirantes dividem o terceiro lugar com 1% cada uma (veja tabela abaixo). O resultado muda quando o Datafolha inverte a pergunta: "Qual a emissora mais crítica em relação ao governo de Fernando Henrique Cardoso?. O SBT passa a ocupar o primeiro lugar com 15% das respostas. A Bandeirantes sobe para o segundo, com 6%. E a Globo cai para o terceiro, com 4% -mesmo índice registrado pela Manchete. Ressalte-se que 56% dos entrevistados não souberam responder à questão. A pergunta anterior gerou menos dúvidas -27% dos entrevistados deixaram de respondê-la. Cúmplice Não é absurdo concluir que os resultados da pesquisa têm relação direta com o jornalismo que cada emissora pratica. Para detectar o tipo de relacionamento que predomina entre o governo e esta ou aquela rede de televisão, o espectador precisa se basear em algo. No quê? Diz o bom senso que, sobretudo, nos telejornais. A pesquisa sinaliza, portanto, que as duas principais TVs brasileiras oferecem produtos jornalísticos de características diametralmente opostas. Os da Globo, avalia o público, "apóiam o governo". Os do SBT são "mais críticos". A desigualdade está custando caro à líder de audiência. O "Jornal Nacional", carro-chefe da Globo, viu sumir 25% do público durante os últimos cinco anos. Entre 1989 e 1994, suas médias no Ibope caíram de 60 para 45 pontos em São Paulo. Houve uma perda de quase 1,5 milhão de espectadores. Os telejornais do SBT aproveitaram a brecha e cresceram. Para reverter o quadro, a Globo percebeu que o melhor é amenizar a diferença. Parecer menos cúmplice do governo (qualquer governo). Daí a demissão de Sousa Cruz, que dirigia a Central Globo de Jornalismo (CGJ) desde 1990. Daí, também, o afastamento do repórter Alexandre Garcia, que costumava cobrir o Palácio do Planalto. A emissora evita dizer às claras, mas julga que os dois profissionais simbolizam o "jornalismo chapa branca", incompatível com as novas necessidades da empresa. Nas palavras do vice-presidente executivo da Globo, Roberto Irineu Marinho, agora é a vez da "isenção, imparcialidade e impessoalidade". É a hora de os telejornais da casa cultivarem a "independência face a todo tipo de poder" e "se desvincularem de partidos ou ideologias". Curiosamente, o homem que a emissora escolheu para conduzir a transição trabalha com a família Marinho há mais de duas décadas. Evandro Carlos de Andrade, o novo diretor da CGJ, assume o cargo depois de 23 anos à frente do jornal "O Globo", tido como conservador e afinado com o governo (qualquer governo). Ainda é cedo para avaliar o real alcance das mudanças. O jogo de cena, pelo menos, já está feito. E o que o motivou não tem nada a ver com ética jornalística ou com o súbito arrependimento diante de erros passados. Tem a ver com o mercado, com a briga cada vez mais acirrada por pontos no Ibope. Texto Anterior: `TJ Brasil' vai ao ar às 20h50 Próximo Texto: Cultura grava programa multinacional Índice |
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