São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 1995
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Mutirão quer dizer mais casas

JOSÉ MENTOR

``A solução mais rápida para atender a faixa mais carente da população seria o financiamento do lote urbanizado, com fornecimento de material para construção de moradia em mutirão."
Embora não seja a única forma de construção de habitações populares, o mutirão revelou-se uma das mais eficientes ferramentas na solução dos problemas de moradia, tanto em cidades pequenas e médias como em São Paulo.
Para se ter uma idéia da eficácia desse sistema, basta lembrar, como exemplo, que, das 43 mil habitações populares que a administração de Luiza Erundina construiu e entregou, nada menos que 15 mil foram feitas em regime de mutirão (as outras 28 mil por empreiteira via Cohab-SP).
Sem falar nas outras 8.000 unidades que o governo do PT também deixou encaminhadas, mas que Maluf paralisou sob o pretexto esfarrapado de que os mutirões não prestavam contas.
De fato, além de permitir a construção de um número muito mais elevado de casas (para comparação: até o final de seu terceiro ano de governo, Maluf não terá construído, segundo sua própria assessoria, mais do que 1.500 apartamentos dentro do chamado projeto Cingapura), o mutirão traz redução no custo das moradias.
A criação de centrais de produção de componentes pré-fabricados, a compra de materiais pelo melhor preço e qualidade, a inexistência de BDI (Bonificação de Despesas Indiretas) ou de qualquer forma de lucro, além do trabalho gratuito dos participantes, são fatores que garantem um custo até 50% menor que o cobrado pelas empreiteiras.
Mas, talvez até mais importante do que a quantidade, a qualidade e o baixo custo das casas, o sistema de mutirão, aliado sempre aos processos de autogestão e/ou co-gestão, traduzido num envolvimento pessoal, num trabalho dignificante e compartilhado de muitos fins-de-semana, é um verdadeiro ato de cidadania e de afirmação de uma sociedade que se organiza para defender e concretizar seu legítimo direito de morar com dignidade.
Os leitores talvez tenham estranhado a falta de citação do nome do autor da frase em epígrafe em defesa do mutirão, logo depois do título deste artigo. Pensaram que é de algum parlamentar ou dirigente do PT? Ou de um integrante ardoroso do Movimento em Defesa da Moradia Popular?
Erraram. A frase é de ninguém menos que Lair Krahenbhul, secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano da atual administração municipal e ex-diretor de planejamento e normas da Secretaria Nacional de Habitação no governo Collor, e foi publicada em artigo assinado por ele nesta Folha (10/01/88). Será que ele mudou de opinião sobre os mutirões?

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