São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 1995
Texto Anterior | Índice

Estudo analisa privatização da educação

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Não há evidências empíricas de que a privatização do ensino médio (o 2º grau) provoca uma melhoria qualitativa da educação.
Essa constatação -feita na dissertação de doutoramento da pesquisadora Dagmar Zibas- tem especial relevância para o Brasil.
Isso porque, desde 1989, um dos principais defensores da privatização do ensino médio na América Latina é o Banco Mundial -instituição que tem um fundo para investimentos na área educacional, composto de dinheiro de praticamente todos os países do mundo, inclusive o Brasil.
Só no Estado de São Paulo, o Banco Mundial deve financiar cerca de R$ 200 milhões para a reforma no ensino até 1997.
Assim, a visão do Banco Mundial sobre os sistemas de educação, mesmo que não seja transcrita literalmente nos projetos financiados por ele, acaba influindo na decisão dos governantes.
Em sua tese, Zibas analisa a reforma educacional que ocorreu no Chile na última década -considerada por muitos pesquisadores, inclusive do Banco Mundial, como um modelo.
No Chile, o governo dá dinheiro a escolas públicas ou privadas dependendo do número de alunos que elas arregimentarem -uma espécie de sistema de livre concorrência entre os dois setores.
Segundo Zibas, esse sistema tem bons resultados econômicos para o Estado -o que levaria os pesquisadores a considerá-lo melhor. Só que estudos -do próprio Banco Mundial- constatam não só uma queda na aprendizagem dos alunos como um aumento da diferença de conhecimento entre alunos mais ricos e mais pobres.
No Brasil, a pesquisadora trabalhou com uma escola privada e uma pública de 2º grau.
Ambas as escolas eram voltadas para a ``classe trabalhadora" -a escola privada cobrava mensalidades de cerca de US$ 90.
A pesquisadora mostra que, enquanto um aluno público acaba custando em torno de US$ 300 ao ano, um particular paga US$ 1.170 -o que dá para triplicar o salário dos professores.
Nenhuma das duas escolas tem um trabalho pedagógico coordenado. Com isso, a qualidade acaba dependendo exclusivamente do professor -e os melhor pagos são, evidentemente, melhores.
Além disso, o fato de as escolas particulares trabalharem com alunos que têm maior poder aquisitivo facilita o seu trabalho educacional -é mais fácil ensinar conteúdos escolares a alunos que venham de famílias instruídas do que alunos de famílias carentes.
O problema, para a pesquisadora, é exatamente a falta de trabalho especializado para lidar com pessoas oriundas de famílias pobres.
Essas e várias outras constatações da pesquisa levam à conclusão de que a privatização não é uma garantia de melhoria na qualidade do ensino médio.
``Determinação política e adequado embasamento técnico e material já propiciariam momentos de recuperação da qualidade do ensino público", afirma Zibas.
(FR)

Texto Anterior: Alunos da FAU lançam revista
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.