São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 1995
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Tortura provoca mal-estar no México

FLAVIO CASTELLOTTI

A exposição ``Instrumentos de Tortura da Inquisição Européia" está no México atraindo, em média, 12.300 visitantes por semana.
Em pouco mais de quatro meses, 210 mil pessoas foram ver a mostra. Uma estranha sensação de asco misturada com mal-estar toma conta de 99% dos visitantes que saem do antigo Palácio da Inquisição, transformado em Faculdade de Medicina e museu.
Os 85 instrumentos expostos se dividem em três categorias: os de pena capital (execução), os de humilhação pública e os de tortura.
Entre os que mais chocam o público está a ``Cadeira para Interrogatórios", cheia de pregos. Detalhe: seu assento era esquentado com um braseiro.
O ``Berço de Judas" impacta pela precisão do cálculo. A vítima era lançada com o peso do corpo, de uma altura de dois metros, sobre uma ponta de madeira que penetrava em seu ânus.
O corpo do indivíduo estava amarrado por um sistema de cordas, que permitia sucessivas repetições do movimento.
Entre os instrumentos conhecidos, estão a guilhotina e o cinto de castidade, que garantia a fidelidade das mulheres, quando seus maridos partiam em longas viagens.
Há também a seção de instrumentos específicos para a tortura de mulheres, como as pinças ardentes e o esmaga-seios.
Segundo a guia da exposição, Fernanda Ezeta, muita gente não consegue percorrer todo o trajeto. ``Uma senhora inclusive desmaiou, enquanto ouvia a explicação do Berço de Judas", disse.
A mostra foi inaugurada em 1983 em Florença, Itália. São 85 peças de colecionadores de diversos países, que já percorreu mais de 20 cidades européias.
Esta é a primeira vez que sai da Europa e, para o ano que vem, está programado um giro pela América do Sul que inclui Brasil, Argentina, Chile e Uruguai.
A exposição foi trazida ao México pela AMDH (Academia Mexicana de Direitos Humanos), que está aproveitando o fluxo de visitantes, para promover uma série de eventos paralelos sobre a questão dos direitos humanos no país.
Para o presidente da AMDH, Sérgio Aguaio, a maioria das pessoas é atraída por curiosidade patológica, mas sai pensando em temas como justiça, direitos humanos e religião.

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