São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 1995 |
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Peça expõe homofobia nas Forças Armadas
OTÁVIO DIAS
O espetáculo trata de um tema polêmico e atual: a perseguição implacável ao homossexualismo nas Forças Armadas. Ao expor a homofobia dentro da Marinha norte-americana, ``Burning Blue" reveste-se de um caráter político, de afirmação dos direitos dos homossexuais. A peça explora também um dos fetiches da comunidade gay. Já na primeira cena -um espetacular salto de pára-quedas-, o público é introduzido no ``mundo maravilhoso" das Forças Armadas: homens em uniforme, cenas de nudez depois do banho, conversas íntimas no dormitório, ruídos de avião cortando o ar. É o que incomoda no espetáculo, essa sensação inicial de que ``Burning Blue" se limitará a tirar proveito do inexplicável atrativo da virilidade militar. No entanto, a peça cresce em qualidade e intensidade quando mostra o processo interno de aceitação da própria homossexualidade vivido pelo tenente Daniel Lynch, vítima da ``caça às bruxas" que termina por afastá-lo da Marinha. O clímax acontece quando Daniel, já livre do uniforme de tenente, declara, com todas as letras e em bom som: ``Eu sou um homem gay". A platéia, orgulhosa, prende a respiração. ``Burning Blue" também sabe fazer o público vibrar. Em determinado momento, um dos amigos heterossexuais de Daniel explica porque prefere frequentar clubs gays: ``Ora, Dano, a música é melhor e as pessoas são mais divertidas". O autor, David Grear, acha que sua peça não é dirigida apenas à comunidade gay. ``É uma peça que fala de relacionamentos e amizade, lealdade e confiança. Qualquer pessoa pode se identificar de alguma maneira", diz. O espetáculo, no entanto, faz mesmo sentido para quem, por algum motivo, está envolvido pela questão homossexual, ou, pelo menos, é simpatizante da causa. Sucesso Quando David Grear abandonou uma carreira bem-sucedida na Marinha norte-americana para se aventurar no universo incerto do teatro, não poderia imaginar a que porto sua decisão o iria levar. Aos 37 anos, parece ter chegado a um porto seguro. ``Burning Blue" estreou em março passado no circuito alternativo londrino. Fez sucesso e transferiu-se em julho para o palco do teatro Haymarket Royal, um dos melhores de Londres. Em breve, a história de perseguição de um homossexual na Marinha norte-americana chegará aos cinemas, numa produção anglo-americana, com as participações ainda não confirmadas de Tom Cruise no papel principal e de Robert Redford na direção. ``Burning Blue" está em cartaz no Haymarket Royal, de segunda a sábado, às 20h. Os ingressos custam de US$ 8 a US$ 37 e podem ser reservados pelo telefone (00 44 171) 930-8800. Texto Anterior: Filme de estreante vai a Veneza e NY Próximo Texto: Autor serviu 6 anos nos EUA Índice |
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