São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 1995
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O culto à mediocridade

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - O caso do Banco Econômico, além de tudo o que já se disse a respeito, é também revelador de como o Brasil é o país do culto à mediocridade.
O dono do Econômico, Ângelo Calmon de Sá, é sem dúvida um gênio. Ou da incompetência ou da má-fé (ou ambas ao mesmo tempo). Só um gênio dessa estirpe seria capaz de quebrar um grande banco quando todos os demais grandes bancos têm tido lucros formidáveis.
Pois bem. Esse gênio das finanças conseguiu ser ministro de Estado. E não apenas uma vez, mas duas. E em duas situações institucionais diferentes, na ditadura e na democracia.
Pior ainda: sua última participação no gabinete se deu quando o então presidente Fernando Collor montou um governo com o qual parte da mídia e a maioria da burguesia tiveram orgasmos reiterados, pelo suposto alto nível dos que o compunham.
Aliás, parte da mídia e a maioria da burguesia já haviam feito de Collor um estadista, o ``Indiana Collor", lembra-se? Pois é. Parafraseando anúncio do lubrificante Bardahl, ``é fácil enganá-los".
Na República da exaltação aos medíocres basta que um cidadão qualquer assuma um posto ministerial para se tornar especialista de grande reputação, ainda que, no seu passado ou na própria atuação como ministro, nada conste que mereça tanto respeito.
Abundam os casos de gente que passou pelos ministérios da área econômica, fracassou redondamente na tarefa principal, a de combater a inflação, mas ainda assim, ao deixar o cargo, passa para uma consultoria particular, a partir da qual não cansa de dar palpites sobre a melhor maneira de derrubar a inflação.
Se alguém se der ao trabalho de elaborar uma lista completa dos ministros dos últimos 10 ou 20 anos, suspeito que vai achar mais calmons de sá do que homens públicos de verdade.
É natural que seja assim. Como não há punição nem para a incompetência nem para a má-fé, o melhor mesmo é ser ``esperto" como Calmon de Sá. O banco quebrou, mas não consta que ele esteja na pior.

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