São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 1995
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PFL se considera desprezado por ministros

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O relacionamento entre o governo Fernando Henrique Cardoso e sua base de apoio parlamentar está abalado, apesar de o presidente negar e dizer que a crise é mera ficção. Ontem, uma reunião da bancada do PFL, principal sustentáculo do governo na Câmara, se transformou em festival de queixas contra os ministros de FHC.
Os deputados, que deveriam se reunir para discutir a nova Lei dos Partidos Políticos, aproveitaram a oportunidade para reclamar do ``desprezo" com o qual são tratados pelos auxiliares presidenciais.
``O senhor não pode mais ser um contínuo dos deputados, pois só se consegue alguma coisa aqui dentro por seu intermédio", disse o deputado Severino Cavalcanti (PE), dirigindo-se ao líder da bancada, Inocêncio Oliveira (PE).
``É mais fácil conseguir audiência se você se apresentar como José Genoino", ironizou o deputado Carlos Alberto (RN), provocando risos nos colegas. Genoino, do PT, faz oposição ao governo FHC.
As críticas foram reforçadas pelo deputado Maluly Netto (SP), que considerou ``deterioradas" as relações entre a bancada paulista do PFL e o Executivo. ``Peço providências ao líder para que essa situação mude", afirmou.
As manifestações levaram Inocêncio a fazer um desabafo. ``Todas as queixas são procedentes, e eu vou levá-las ao presidente", afirmou o líder do partido, que acabava de vir de uma reunião com a bancada mineira do partido, na qual tinham sido apresentadas reclamações semelhantes.
``A maior parte dos ministros não recebe nossos deputados nem sequer atende seus telefonemas. Muitas vezes eu mesmo tive de ligar para colocar o deputado em contato com o ministro", disse.
Segundo ele, o PFL mereceria um tratamento melhor por ter sido o partido que apresentou o comportamento ``mais correto" na votação das reformas constitucionais no primeiro semestre. ``Ser governo é um ônus, mas também precisa significar bônus."
Após a reunião, Inocêncio disse que não se referiu a nenhum ministro especificamente. ``Ninguém da área econômica nos recebe", afirmou o deputado Carlos Alberto. Inocêncio não quis confirmar a informação: ``Não sei, não quero julgar. Eu gosto muito do Malan".

Bahia
Em relação aos pefelistas baianos, há mais um agravante, que é a intervenção do Banco Central no Banco Econômico. A bancada ameaça romper com o Palácio do Planalto se houver uma liquidação do banco privado.
``Não teremos condições políticas e morais de continuar a apoiar o governo", disse o deputado Jairo Azi (PFL-BA), coordenador da bancada na Câmara.
Azi disse que ``a bancada está tensa na expectativa dos desdobramentos das negociações". Ele participou ontem de um almoço com o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), o secretário da Fazenda da Bahia, Rodolfo Tourinho, e outros deputados baianos.
Segundo o deputado, ACM pôs ``água na fervura" e recomendou evitar atitudes precipitadas antes do fim das negociações.
O senador lidera a resistência dos baianos à intervenção do BC. Dois senadores e 18 deputados seguem orientação de ACM.
A alternativa para o caso Econômico que garanta os depósitos, mas não a reabertura do banco, segundo ACM, é uma saída ruim. ``Não é a solução da Bahia."

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