São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 1995
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Droga para hipertensão aumenta risco de infarto

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Drogas usadas para tratar pressão alta podem aumentar o risco de ataques cardíacos em 60%, diz estudo publicado hoje na revista da Associação Médica Americana.
"Sabe-se que essas drogas reduzem a pressão sanguínea", disse Bruce Psaty, da Universidade de Washington, em Seattle (Costa Oeste dos EUA), chefe da equipe de pesquisadores.
Os pesquisadores descobriram que drogas chamadas bloqueadores do canal de cálcio parecem aumentar o risco de ataque cardíaco em comparação com dois outros tipos de drogas para hipertensão: diuréticos e betabloquadores.
"Comparados ao uso apenas de diuréticos, o uso de bloqueadores do canal de cálcio -com ou sem diuréticos- foi associado a um crescimento de 58% a 70% do risco de infarto no miocárdio, escreveu Psaty na publicação.
Psaty destacou que seu estudo apóia as diretrizes americanas que recomendam doses pequenas de drogas contra a hipertensão e o uso preferencial de diuréticos e betabloquadores.
As drogas bloqueadoras do canal de cálcio são comumente recomendadas como tratamento para pessoas que sofrem de pressão alta e têm problemas respiratórios.
Nesses casos (normalmente associados ao cigarro), os betabloqueadores não são indicados.
Segundo os cientistas, os médicos deveriam repensar o uso dos bloqueadores do canal de cálcio como tratamento para hipertensos.
As pesquisas realizadas indicam que, para cada mil pacientes hipertensos tratados com diuréticos, espera-se que dez, a cada ano, sofram um ataque cardíaco.
No caso dos pacientes tratados com os bloqueadores do canal de cálcio -drogas como nifedipine, verapamil e diltiazem-, o número médio de pessoas que sofrem um ataque cardíaco sobe para 16, segundo a equipe de Psaty.
Os pesquisadores também descobriram que o crescimento do risco cresce proporcionalmente com o aumento no uso dos bloqueadores do canal de cálcio.
Além disso, o crescimento do risco associado ao uso dessas drogas parece ser o mesmo para pacientes que apresentam ou não tendência a doenças cardiovasculares.
Em editorial que acompanha a pesquisa na mesma revista, cientistas da Escola de Medicina de Harvard disseram que, embora interessantes, os dados do estudo de Psaty ainda têm de ser confirmados e não podem ser utilizados como base para decisões clínicas.
Segundo eles, testes que estão sendo realizados com 40 mil pessoas em 400 clínicas dos EUA são a melhor estratégia para determinar a validade dos resultados.
"As descobertas do estudo de Patsy trazem uma mensagem clara e importante para pesquisadores, mas não para quem presta cuidados médicos e certamente não para pacientes com hipertensão, dizem Julie Buring, Robert Glynn e Charles Hennekens no editorial.
Segundo os pesquisadores de Harvard, os fatores associados à recomendação da droga são difíceis de controlar, o que recomenda um estudo mais detalhado.
Os próprios pesquisadores de Seattle admitem que os bloqueadores do canal de cálcio aumentaram o risco de infarto quando usados em doses elevadas, mas, em pequenas doses, o aumento observado foi pouco significativo.

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