São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O Censo e as estatísticas

PAULO DE MARTINO JANNUZZI

O Sistema Estatístico Nacional era, até alguns anos atrás, um dos mais reputados e diversificados sistemas de informação social, demográfica e econômica presentes em países do Terceiro Mundo.
Censos demográficos com amplo espectro investigativo, censos econômicos realizados a cada cinco anos, pesquisas domiciliares anuais, pesquisas mensais de emprego, registro de eventos vitais e registros administrativos nas áreas de educação, saúde e trabalho compunham, até o final dos anos 80, um rico acervo de informações para planejamento nos setores público e privado.
É verdade que sobravam problemas a resolver na produção e divulgação das estatísticas nacionais. Atrasos nas publicações, desagregação espacial das informações aquém das expectativas dos usuários e dificuldades de acesso às bases de dados eram algumas das queixas mais frequentes nos centros de pesquisa.
Com o governo Collor, as disfunções do sistema se acentuaram de tal forma que passaram a ofuscar as suas virtudes. O adiamento do censo demográfico para 91 e o cancelamento dos censos econômicos foram as manifestações mais inequívocas do descaso governamental.
Mais recentemente, as restrições orçamentárias dos governos federal e estadual vêm atentando contra a existência das estatísticas nacionais.
A Fundação IBGE, coordenadora do sistema e principal produtora de indicadores sociais, demográficos e econômicos nacionalmente, conta com um número cada vez menor de pessoal qualificado, por conta da evasão e aposentadoria de seus técnicos.
No Estado de São Paulo, a Fundação Seade, responsável pela excelência do sistema de estatísticas no Estado, pela realização da pesquisa de desemprego na região metropolitana de SP e pela coordenação da mesma em várias capitais, pela pesquisa de condições de vida e pelo Anuário Estatístico do Estado, sofre um corte drástico em seu orçamento, que já provocou a demissão de 160 funcionários de um quadro de cerca de 500.
É compreensível que, frente à impossibilidade de fazer investimentos em infra-estrutura pela situação desfavorável das finanças públicas, os governos federal e estadual promovam cortes nas suas estruturas administrativas.
Mas não pode passar desapercebido à sociedade e ao próprio governo que as dificuldades impostas às agências gestoras e produtoras de estatísticas tendem, em curto espaço de tempo, dificultar não apenas a elaboração de diagnósticos precisos da situação social e da conjuntura econômica, mas também inviabilizar a avaliação da efetividade política e social das políticas de governo implementadas.

Texto Anterior: Maternidade fecha por falta de médicos em SP
Próximo Texto: SP registra enxurrada de passes falsos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.