São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 1995
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Polícia identifica `baderneiros' e planeja arrastão nas organizadas

ARNALDO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

A polícia planeja prender os chefes das principais torcidas organizadas de futebol em São Paulo.
A idéia surgiu após a batalha campal entre são-paulinos e palmeirenses, domingo, no Pacaembu, que deixou 102 feridos, um deles em estado grave.
Segundo a Folha apurou, as prisões são estudadas pelo Departamento de Homicídios e Atentados à Pessoa da Polícia Civil.
Ele acredita que os líderes têm envolvimento direto em casos de violência extracampo.
Em primeiro lugar, serão investigados os chefes das uniformizadas de São Paulo e Palmeiras. Depois, será a vez dos demais clubes.
Ontem, o DHPP anunciou ter identificado 22 pessoas envolvidas no confronto de domingo. Entre elas, o agressor de Márcio Gasparin da Silva, internado em estado de coma no Hospital das Clínicas.
Os 22 ``baderneiros" não tiveram seus nomes divulgados.
Eles serão chamados para prestar depoimento e também devem ter suas prisões temporárias (de 5 a 60 dias) decretadas pela polícia.
Os considerados culpados serão indiciados sob a acusação de desordem, danos ao patrimônio público ou formação de quadrilha.
Os menores serão enviados à Vara da Infância e Juventude.
A Polícia Civil chegou aos 22 primeiros suspeitos através de telefonemas anônimos.
A Polícia Militar também ajudou na checagem dos nomes -tem um cadastro com os dados de 7.500 torcedores.
Além dos presidentes das torcidas organizadas de São Paulo e Palmeiras e dos 22 identificados, serão ouvidos também os policiais que tentaram intervir na pancadaria de domingo.
A polícia acredita que precisa de pelo menos uma semana para ouvir todos os depoimentos.
Os presidentes das torcidas Mancha Verde e TUP (do Palmeiras) e Independente e Dragões da Real (do São Paulo) serão convocados para depor nesta semana.
``Todos os envolvidos serão punidos de modo exemplar. A opinião pública está cobrando e temos que dar uma resposta imediata e preventiva para episódios futuros", disse o delegado titular do caso, Sérgio Luís Alves, da 1ª Delegacia Especial do Grupo de Investigação do Crime Contra Criança e Adolescente do DHPP.
Cerca de 40 investigadores estão cuidando do caso. O objetivo final da polícia é acabar com as torcidas organizadas.
A PM pretende aproveitar ``o momento de mobilização" para aprovar um estudo elaborado em junho, visando, entre outras coisas, o fim das organizadas.
O DHPP recebeu ontem uma ligação anônima de uma ex-integrante da torcida Mancha Verde, do Palmeiras. No telefonema, ela relata atos de vandalismo cometidos na própria sede da torcida.
Diante disso, a polícia planeja organizar ``visitas surpresas" às sedes das torcidas organizadas.
Com o apoio da Federação Paulista de Futebol, a polícia vai sugerir que o Ministério Público averigúe se as torcidas funcionam como entidades paramilitares, com a função de provocar desordens.
Caso isso se confirme, as uniformizadas podem ser processadas por formação de quadrilha -abrindo brecha no Código Penal para seu fechamento.
LEIA MAIS Sobre a violência no futebol às págs. 2 e 3 e sobre o Brasileiro às págs. 2 a 4

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