São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 1995
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Que a Justiça seja rápida e implacável

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Bateu o desespero e a turma saiu por aí munida da maior boa vontade, tentando achar a fórmula mágica que banisse de vez dos estádios a intolerável violência que está matando nosso futebol.
Este propõe que a violência seja barrada no guichê, sob a força do poder da grana que seleciona e ameniza qualquer ambiente. Aquele, que se proíba o uso das camisas dos clubes nos campos de futebol, pois assim os bandos de delinquentes que se identificam pelos uniformes deixariam de ser uma força de ação organizada, ao perderem a identidade.
Isso, num momento em que o Brasil deveria ter como meta precípua a construção do conceito de cidadania, este sim o elemento de harmonia numa sociedade que se pretenda democrática.
Ora, esse edifício se constrói não a golpes de marretas. É uma lenta, laboriosa, detalhada e dolorosa elaboração, que exige paciência e extremo cuidado para se evitar que a busca de soluções imediatas para problemas circunstanciais e circunscritos a determinados setores da sociedade derrubem, num golpe, o pouco que até agora se construiu.
Ah, mas alguma coisa precisa ser feita já, sob o impacto das cenas selvagens da sangrenta manhã de domingo, no Pacaembu, colhidas pelas TVs e espalhadas pelo mundo todo. Claro que sim.
Em primeiro lugar, obviamente, deve-se identificar os culpados, delimitando-se a margem de responsabilidade de cada um. Os maiores responsáveis, sem dúvida, são os selvagens que se envolveram diretamente na batalha. Muitos deles são perfeitamente identificáveis pelas imagens da TV.
Um deles, então, verdadeiro monstro, assassino frio e implacável, recolheu um porrete de madeira do chão, aproximou-se de um outro, semiconsciente, estirado no gramado, e desferiu-lhe um golpe na cabeça tão violento que o improvisado tacape partiu-se ao meio. Impassível, retirou-se lenta e friamente.
Essa coisa deveria ser identificada, presa a sete chaves, julgada e condenada por tentativa premeditada de homicídio, com requintes de crueldade, e apodrecer na cadeia. Mas com direito de defesa.
A seguir, vêm as torcidas organizadas, como instituições, e seus respectivos dirigentes. Todos deveriam ser enquadrados em vários crimes de responsabilidade catalogados nos Códigos Penal e Civil.
Assim como devem responder pelos acontecimentos, na devida proporção, a prefeitura, que promoveu o evento e que, por incúria, contribuiu para que a briga atingisse aquelas trágicas dimensões, ao liberar o Pacaembu com a farta munição do entulho das obras do Tobogã.
Obras, aliás, também de responsabilidade do prefeito Paulo Maluf, que era o alcaide nos tempos da construção daquela aberração arquitetônica agora ameaçada de desabar. Por fim, a Polícia Militar, que, apesar das sucessivas tragédias dos últimos anos, não providenciou policiamento adequado para a ocasião.
E que a Justiça seja rápida e implacável. Só assim cada um pagará a sua parte e a cidadania será preservada.

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