São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Traficantes são alvo de Spike Lee

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

O cineasta norte-americano Spike Lee reclamou que seus filmes não são mostrados no Brasil e disse que, apesar de trabalhar para grandes estúdios, ainda se considera um diretor independente.
``Tenho fontes no Brasil e fui informado de que meus filmes ficam pouco tempo em cartaz ou nem são lançados no cinema, só em vídeo", afirmou Lee.
``Malcolm X' deveria interessar muito aos brasileiros, já que conta a história de um líder negro. Mas, pelo que soube, só ficou duas semanas em cartaz", reclamou.
O cineasta conversou com a Folha na segunda-feira, em Nova York, para divulgar seu novo filme, ``Clockers" (gíria para pequenos traficantes de droga), que estréia nos EUA em setembro.

Folha - ``Clockers" é mais um filme sobre traficantes de droga negros em choque com a polícia branca. O sr. não acha que esse assunto já está desgastado?
Spike Lee - Acho. Mas ``Clockers" é diferente porque mostra que nem todo mundo que vive nos bairros pobres das grandes cidades americanas é traficante. O filme tem uma mensagem positiva. É pesado, mas mostra que o crime não é a única opção de quem cresce nessa vizinhança.
Folha - Houve mudança na adaptação do livro ao cinema?
Lee - O livro conta a história sob a ótica de um policial. Como não queria fazer um filme sobre tiras, diminuí a importância do detetive Rocco Klein (Havey Keitel) e aumentei a de Strike (traficante, feito pelo estreante Mekhi Phifer).
Folha - Seus filmes sempre tratam de questões raciais. O sr. não teme ficar estigmatizado?
Lee - É um risco que corro. Mas meu próximo filme não tem nada disso. Chama-se ``Girl's Sex" e conta a história de uma menina que trabalha num disque-900 de sexo. É uma comédia e só deve estrear em abril de 96, porque ainda estamos editando. Madonna, Quentin Tarantino, Naomi Campbell e John Turturro fazem participações especiais.
Folha - Comenta-se que o sr. pensa em filmar a história do jornalista negro Mumia Abu-Jamal, condenado à morte por matar um policial em 82.
Lee - Assinei o protesto contra a execução de Jamal e acho que sua história mereceria um filme. Mas não penso em dirigir porque já tenho outros planos: quero filmar a vida de Jackie Robinson, primeiro jogador negro de beisebol dos EUA, em 1947. Estou tentando convencer Denzel Washington a fazer o papel-título.

Texto Anterior: Ato de fé glorifica e redime o homem
Próximo Texto: E não é que a portuguesa tá certa?!
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.