São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 1995
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Estudante chora 45 vezes e afirma que se arrependeu

ANA LIMA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

A Polícia Militar estima que cerca de mil pessoas passaram pelo fórum de Santos para assistir o julgamento da estudante Andréia Amaral, entre a manhã de anteontem e a madrugada de ontem.
O público era formado principalmente por estudantes de direito, advogados e donas-de-casa.
O julgamento começou às 9h de terça. Andréia entrou de cabeça baixa. Com 78 kg e cerca de 1,60 metro de altura, está 20 kg mais gorda que na época dos crimes.
Vestia um casaco cor-de-rosa sobre a blusa branca. Usava saia branca. Os cabelos estavam soltos e as unhas, pintadas de vermelho.
Prestou depoimento por duas horas, chorou, e pela primeira vez disse estar arrependida por ter tramado a morte do pai. Depois, o juiz iniciou a leitura do processo, que durou mais de seis horas.
Houve uma pausa para almoço, que foi servido nas salas internas do fórum. Os trabalhos foram retomados com o interrogatório de três testemunhas da acusação.
Às 20h, o julgamento foi interrompido novamente, para o jantar. Todos comeram pizza, beberam refrigerantes e tiveram mamão e sorvete para sobremesa. O termômetro marcava 30oC na sala, que comporta 500 pessoas sentadas.
Citando a Bíblia -``Dai a Deus o que é de Deus e a César o que é de César"-, o promotor Octávio Borba de Vasconcelos iniciou a acusação. Falou por duas horas e pediu pena máxima para Andréia.
Ela chorou várias vezes. Das 22h até o final do julgamento, teve 45 ataques de choro. Às vezes contidos, às vezes com desespero.
A defesa pediu a absolvição para a acusação de crime premeditado da mãe. Tentou provar que o pai a havia estuprado.
Na contestação, Vasconcelos citou o julgamento do ex-astro do futebol americano O.J. Simpson, acusado de matar a ex-mulher e um amigo dela, nos EUA.
Ele repetiu um dos promotores norte-americanos, que, ao contestar métodos da defesa, afirmou: ``O Tribunal do Júri está sendo transformado em circo".
Depois, Vasconcelos fez críticas aos métodos utilizados pela defesa de Andréia. Foi aplaudido.
Após a última intervenção da defesa, os integrantes do júri se reuniram para o veredicto. Andréia olhou para o crucifixo na parede acima do juiz e parecia rezar.
Após três horas, o juiz chamou Andréia para dar a sentença. Na platéia, apenas uma parente sua, que não quis se identificar, torcia para que a pena fosse mínima.
Andréia tremia e não conseguia controlar o choro. Ao ouvir a condenação, chorou descontroladamente. Saiu de cabeça baixa, escoltada por PMs.

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