São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 1995
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Leia a íntegra da nota de Calmon

A seguir, a íntegra da nota divulgada ontem por Calmon de Sá:

``A partir de 95, em função dos distúrbios econômicos verificados no México e na Argentina, constataram-se uma série de boatos que geraram um grau de insegurança no mercado. Matéria de semanário de circulação nacional sobre o Banco Econômico terminou por transformar o boato sobre a crise de liquidez em realidade.
Basta citar-se que, no final do ano passado, o Banco Econômico tinha cerca de R$ 800 milhões de depósito compulsório. Dentro do sistema financeiro, toda vez que ocorrem faltas de liquidez momentânea recorre-se ao redesconto. No dia da intervenção, a Conta de Reserva Bancária atingiu o valor de R$ 3,065 bilhões, montante sacado pelos depositantes do banco, movidos pelo noticiário e pela nota dos serviços de broadcast anunciando a possível intervenção:
`O Banco Central pode anunciar até o final do dia de hoje se intervém ou não no Banco Econômico. É intensa, desde cedo, a movimentação de técnicos das áreas de fiscalização e reservas bancárias junto à diretoria do Banco. O presidente do BC, Gustavo Loyola, estava com viagem prevista para SP e decidiu ficar em Brasília. Os diretores de Política Monetária, Alkimar Moura, e o diretor interino de Fiscalização, Claudio Mauch, também permaneceram na capital federal. Normalmente, na sexta-feira, os diretores despacham nas delegacias regionais do BC de seus respectivos Estados.'
O Banco Central não apresentou qualquer desmentido sobre a intervenção, mantendo silêncio absoluto. Com isso, ocorreram saques atingindo a casa dos R$ 500 milhões, somente no dia da intervenção. As Bolsas de Valores suspenderam por volta das 14h suas negociações, mas o Econômico não tinha a prerrogativa de paralisar as operações e sustar a drenagem de recursos. Somente no dia 14 é que as autoridades divulgaram nota oficial assegurando a solidez do sistema e garantindo sua liquidez. Além disso, o Banco Central tem por missão preservar a estabilidade do sistema financeiro e a segurança para seus depositantes e investidores.
O Banco Central tinha perfeito conhecimento da situação patrimonial do Banco Econômico. Isto fazia supor que a situação patrimonial era compatível com o que se esperava no banco. Nos últimos tempos, não houve qualquer deterioração dessa situação patrimonial. Além disso, no patrimônio do banco há inúmeros ativos contra o próprio governo, não sendo crível que sejam eles avaliados em dimensão inferior ao nominal.
O Banco Econômico, nos últimos 18 meses, realizou investimentos em tecnologia que resultaram numa diminuição de seu corpo funcional em torno de 20%, além de um significativo aumento nas receitas provenientes da prestação de serviços e não de operações de crédito."
Viagem
``Jamais pensei em sair da Bahia."
Operações
``Não vejo como acusar de má gestão um banco que sempre agiu de acordo com as diretrizes do governo, buscou as prioridades e metas sociais e econômicas por ele apontadas, adotou providências para receber dos devedores, obteve ganhos de produtividade e aumentou sua capitalização e que tem, nas raízes de seus problemas, o não-cumprimento, pelo governo, de parte de seus compromissos."
Saques pessoais
``Os principais acionistas e administradores do banco deixaram seu patrimônio no Econômico. Alguns deles fizeram novos investimentos nos meses de julho e agosto de 95. E a holding, controladora do banco, Iep deixou no Econômico a totalidade de seus depósitos, que hoje estão indisponíveis, superiores a R$ 5 milhões. Essa é a melhor prova de que, até o último minuto, os administradores e acionistas tinham confiança no banco.
A nota da Broadcast, divulgada as 12h59 do dia 11 e transcrita acima, precipitou os saques, inclusive de seus administradores. Não se pode querer impedir que qualquer pessoa, para sua subsistência pessoal e para atender compromissos assumidos, tenha um mínimo de numerário a sua disposição. Apenas para citar um exemplo, eu, embora tendo mais de R$ 600 mil aplicados, retirei, como de hábito, R$ 10 mil para despesas pessoais e de folha de pagamento de funcionários de minha fazenda. Meu filho, que não é funcionário do banco, sacou, como qualquer outro cliente, para atender um compromisso assumido."
Transferência para o exterior
``O Transworld Bank foi criado em 1986, autorizado pelo Banco Central do Brasil e jamais tomou empréstimo do Banco Econômico. Ao contrário, sempre foi doador de seus recursos para o banco."
Balanço
``O Banco Econômico apresentou seu balanço dentro dos prazos legais, auditado pela Ernest & Young, tendo sido submetido ao BC. No nosso entendimento, ele reflete a realidade da situação patrimonial naquela data. Ao mesmo tempo, evidencia uma maior dependência dos recursos do interbancário."
Raimundo Menezes
``A transação se resumiu a uma venda de imóvel a prazo do Econômico."
Conversa com autoridades
``Tenho mantido conversações com as autoridades e estou plenamente de acordo com soluções que preservem o Econômico."
Funcionários
``Nada mais revoltante do que a sensação de perda repentina de algo que se ajudou a construir. Tenho certeza de que todos os funcionários do banco, depois de passada a turbulência, irão refletir sobre o esforço da nossa organização em preservar empregos e condições de trabalho."
Relações pessoais
``Em nenhum momento meus amigos me abandonaram, muito pelo contrário. Tenho recebido centenas de telegramas e cartas de solidariedade."

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