São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 1995
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Governador responsabiliza PT por conflito

GEORGE ALONSO
ENVIADO ESPECIAL A PORTO VELHO (RO)

O governador de Rondônia, Valdir Raupp (PMDB), 40, acusa o PT de estar incitando a desordem no campo, vê despreparo da PM do Estado e admite não ter total controle da corporação.
Em entrevista à Folha, no Palácio Presidente Vargas, Raupp diz que ``esses movimentos de sem-terra vêm sendo preparados pelo PT há meses".
O governador se diz traído por petistas que participavam de seu governo (o PT o apoiou no segundo turno da eleição de 1994). "Não quero mais nenhum filiado ao PT no meu governo", afirmou.
Seis dos sete petistas que integravam o governo se demitiram. Três voltaram atrás, a pedido do governador, e se desligaram do PT. Um foi demitido (o secretário da Agricultura -veja abaixo).

Folha - O conflito de Corumbiara poderia ter sido evitado?
Valdir Raupp - Jamais poderia imaginar que, em meio a tantas desocupações de sem-terra, em Rondônia e em outros pontos do país, pudesse ocorrer um conflito armado como esse de Corumbiara.
O conflito poderia ter sido evitado se não existisse a lei que diz que o direito de propriedade deve ser preservado. Houve falhas dos dois lados.
Folha - Quais são os lados?
Raupp - Do movimento dos posseiros e da polícia, que também não teve uma preparação tática para a operação. E falta na PM preparo emocional. É preciso treiná-la de outra forma.
Folha - Mas a PM está diretamente subordinada ao sr....
Raupp - Na primeira vez em que a PM foi ao local, não fiquei sabendo. O juiz solicita a PM diretamente. Na segunda, sim, pedi para protelar. Mandamos uma missão ao local, com representantes do governo, da Casa Civil, do Incra e, inclusive, do PT. Eles foram lá negociar uma saída. O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) estava buscando uma área para assentá-los.
O que houve é que as lideranças dos posseiros disseram que estavam ali para topar qualquer parada, que era tudo ou nada.
Folha - Então, o sr. estava mal-informado?
Raupp - Não. Aí o coronel me perguntou se podia começar a operação. Eu disse para ele: ``Vai com calma, vai devagar."
Folha - A PM pode agir sem seu conhecimento?
Raupp - A polícia tem autonomia para cumprir ordens e mandados. Se há uma denúncia, a polícia tem autonomia para manter a ordem.
Folha - O vice-governador, Aparício Carvalho de Moraes, vive dizendo que o sr. está mal-informado, mal-assessorado e deveria trocar sua equipe.
Raupp - O primeiro secretário demitido foi o da Agricultura e Reforma Agrária, Osvaldo Pitaluga (do PT). Ele é da região de Cerejeiras e podia ter não só informado mais o governo sobre o movimento armado como tentar convencer os líderes a sair da fazenda.
Folha - O sr. foi traído?
Raupp - Fui, principalmente pelo secretário da Agricultura, que incitou o movimento a permanecer na fazenda.
Folha - Estão pipocando conflitos em Rondônia. Jaru, Mirante da Serra, Buriti, Pimenta Bueno, Campo Novo, sem falar no garimpo Bom Futuro. Como o sr. explica isso e como enfrentar essa avalanche de invasões?
Raupp - Isso aí estava preparado pelo PT em todo o Brasil. Ninguém prepara um movimento desses da noite para o dia.
Folha - Mas sr. tem petistas no governo.
Raupp - Não tenho mais ninguém do PT no governo.
Folha - E não quer?
Raupp - Quero os dissidentes do PT. Filiado ao PT, não quero.
Folha - Na última terça-feira, houve um tiroteio entre posseiros e seguranças de fazenda em Buritis...
Raupp - Estão entrando em áreas de preservação ambiental. Não estão tendo paciência.
O presidente do Incra veio a Rondônia e se comprometeu a assentar 2.600 famílias até o fim do ano. Eles estão esperando terra há anos, o que custa esperar mais 60 dias?
Pelo que estou vendo, os líderes e o PT querem provocar mesmo é uma desordem no país. Isso está ficando bem claro.
Não tenho nada contra os posseiros, 99% deles são pessoas humildes, trabalhadoras e até inocentes. Mas tem aí uma meia dúzia de pessoas infiltradas que deveriam estar é na cadeia.
Folha - A sua imagem sai desgastada do episódio?
Raupp - A população me conhece. Como prefeito de Rolim de Moura, duas vezes, ajudei acampamentos de sem-terra, levando comida e água potável.

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