São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 1995
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Hugh Grant é diretor de teatro afetado no vago 'Jogos de Ilusão'

ZECA CAMARGO
EDITOR DA ILUSTRADA

Filme: Jogos de Ilusão
Direção: Mike Newell
Elenco: Georgina Cates, Hugh Grant
Onde: a partir de hoje nos cines Metrópole, Morumbi 6, Center Iguatemi 1, Belas Artes sala Oscar Niemeyer e circuito

Por um bom tempo, vai ser impossível escrever sobre um novo filme de Hugh Grant sem resistir à tentação de inúmeras piadinhas que remetem ao seu desastrado encontro com a prostituta Divine Brown. A estréia de hoje, "Jogos de Ilusão", oferece mais algumas dessas tentações.
Por exemplo, nessa história, localizada na cidade inglesa de Liverpool logo após a Segunda Guerra Mundial, Grant faz um afetado diretor de teatro. A primeira peça que ele dirige no filme chama-se "Esquinas Perigosas". Hummmmmm.
Possibilidades de insinuar algo sobre sua imagem surgem a cada sequência, e seria divertido colecioná-las, se o simples trabalho de acompanhar "Jogos de Ilusão não fosse em si um desafio.
Resumir esse trabalho do diretor Mike Newell (responsável pelo sucesso de Grant em "Quatro Casamentos e um Funeral") é até fácil: adolescente abandonada pela mãe quando bebê é criada pelos tios e quer ser atriz.
Assim, envolve-se com uma companhia de repertório onde Grant é um diretor tipicamente manipulador das emoções dos atores à sua mercê.
A garota, Stella (interpretada por Georgina Cates) se apaixona -coitadinha, em vão- pelo diretor que é homossexual, mas quem acaba a seduzindo é um ator mais velho que se une à companhia. Traumas de infância, crueldades psicológicas e até um incesto temperam o roteiro.
Ao elaborá-lo cheio de buracos para que o espectador o preencha com seu poder de conclusão, o Welles faz uma tentativa quase cubista (e não muito feliz) de contar a história.
Grant está divertido em sua afetação -e ganha até quem não consegue esquecer os acontecimentos recentes de sua vida pessoal.
Outros personagens (a diretora da companhia, o ator mais velho, o mais jovem que Grant seduz e depois rejeita) até convidam o espectador à simpatizar com eles, mas a estrutura de "Jogos de Ilusão" deixa na mão quem aceitar esse convite.
Confusa até na sua intenção -será que ele quer mostrar a história de uma companhia de teatro, as excentricidades de seu diretor, a inocência perdida de uma adolescente ou o vazio de um período pós-guerra?- a produção se recusa a envolver o espectador.
O personagem de Grant conquista pela fidelidade com que é interpretado (qualquer pessoa que já trabalhou com um diretor de um espetáculo entende bem o significado da palavra "manipulação" -dentro e fora do palco). Mas basta ele se tornar interessante para o roteiro abandoná-lo.
O filme sempre volta à Stella para justificar o desfecho da história (que nem é tão surpreendente assim).
É uma pena -até porque o diretor perde aqui a chance de reforçar seu sucesso anterior.
É como se, no lugar de concentrar seus esforços na alegria de quatro casamentos, Welles preferiu se inspirar em um funeral.

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