São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 1995
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Paez canta em português em novo CD

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Com o aval de Caetano Veloso, Djavan e Herbert Vianna, o cantor e pianista argentino Fito Paez, 32, tenta conquistar o mercado brasileiro.
Considerado o principal músico pop argentino, Paez lança aqui seu novo disco, ``Circo Beat", com três versões em português e a participação dos brasileiros.
No dia 30 o cantor faz show no Palace, em São Paulo, com a participação de Djavan e Herbert Vianna.
Há quase dez anos o cantor sonha em abocanhar uma fatia do mercado brasileiro.
Em seu país, Paez vendeu 500 mil cópias de seu disco anterior, ``El Amor Después del Amor". No Brasil, as vendas chegaram a 4,5 mil unidades.
Mas dessa vez, o ataque é mais consistente. ``Estou até tentando cantar em português", explica.
E as três músicas em português são apenas um aperitivo. ``Quero fazer um disco inteiro. Adoro cantar em português", afirma Paez, entre uma e outra declaração de amor ao país.
``Estoy en mi casa aqui", diz em um portunhol atravessado.
Paez sabe que a língua é uma barreira difícil de transpor. Principalmente se o padrão de cantor em espanhol no Brasil é o romântico Julio Iglesias, como ele diz, destilando ironia.
Ele admite que a rivalidade entre os dois países, principalmente entre as quatro linhas de um campo de futebol, é um outro obstáculo e tanto.
``Isso atrapalha, mas as pessoas não deveriam perder uma canção por uma bola de futebol", diz ele, que preferiu o piano a jogar como centroavante.
``Tinha que fazer muito esforço no futebol. Além disso, foi mais fácil ganhar meninas com a música que com o futebol", diz zombeteiro.
Mas a perda não foi tão grande assim para ele, que encontra pontos em comum com entre futebol e a música. São duas atividades movidas pela paixão. Mas não só.
``Todas as torcidas argentinas cantam as minhas músicas. São as mesmas melodias, mas com letras diferentes", diz orgulhoso.

Tango
Além de futebol e música, Paez tem outras coisas em mente.
A preservação da memória e a valorização da tradição argentinas são preocupações.
Paez vai dirigir o primeiro longa-metragem em 95. Uma ficção abordando os efeitos da ditadura militar argentina na sociedade.
``Essa é a Argentina que a Argentina não quer ver", diz.
Paez também trabalha com um sociólogo e um musicólogo em um projeto para rastrear a origem da canção argentina.
``Quero cantar a argentina através da canção", afirma.
O resgate das tradições é uma razão porque ele não poupa elogios ao disco ``Fina Estampa" de Caetano Veloso -que tem antigas canções latino-americanas e ``Un Vestido Y Un Amor", de Paez.
``Ele é o primeiro artista que faz esse trabalho de resgate da música latino-americana", diz ele que viu o ensaio do show de Caetano.
``Ele me cantou ``Un Vestido Y Un Amor" à capela e eu quase chorei", conta.
A preocupação com a memória é reforçada pela ausência de interesse da nova geração de músicos argentinos com a tradição.
``A música argentina vive um momento de crise. Não há saída, a não ser que repasse o passado".
Paez é cético em relação à mistura cultural, tida por muitos como futuro da música. Não confia em ``world music" e rótulos afins.
``A mistura ocupa o lugar da modernidade. Juntar o ritmo baiano, um guitarra de rock e um acorde de tango é fazer música por computador. Vivemos a cultura do zapping, o pós-modernismo", diz, aludindo ao uso de controle remoto para trocar os canais de TV (zapping).
Mas o cantor deixa uma porta aberta por onde pode escapar em qualquer eventualidade.
Para ele a mistura tem valor, desde que produza ``algo autêntico".

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