São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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O preço da liberdade é a eterna vigilância

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A velha UDN costumava brandir contra seus inimigos políticos o antigo slogan britânico: ``O preço da liberdade é a eterna vigilância".
É bem verdade que a UDN acabou sendo um dos sustentáculos políticos do golpe militar que apeou do poder um governo legalmente estabelecido para, em seguida, mergulhar o país na longa treva da ditadura. Mas o preceito é bom: nenhuma validade terão as medidas adotadas agora, sob o impacto da comoção provocada pelos lamentáveis episódios de domingo passado, se esses cuidados não forem incorporados no dia-a-dia do nosso futebol.
(Isso sem se falar nas ações profundas e de longo prazo que ataquem o núcleo da questão: a miséria e a deseducação que roubam da maioria dos nossos jovens quaisquer perspectivas de vida digna).
Explico melhor: se hoje fossem abertos os portões dos estádios para serem tomados por todas as organizadas, sou capaz de apostar que nenhum palavrão seria proferido, pois a simples indignação dos meios de comunicação já atuou como freio à selvageria latente desse pessoal.
Assim como, logo depois daquele trágico acontecimento, também na disputa da Copa SP de Juniores, em que morreu um garoto, vítima de bomba caseira, baixou uma paz de mosteiro nos estádios.
Ainda recentemente, quando a polícia resolveu cercar de cuidados jogos potencialmente explosivos, nenhum incidente grave ocorreu. A coisa pega fogo sempre que as autoridades relaxam, como ocorreu no domingo passado no Pacaembu.
Eis por que, sem reduzir a culpa dos baderneiros que transformaram o Pacaembu num campo de batalha, insisto no altíssimo grau de responsabilidade da prefeitura, encarnada na figura do prefeito Paulo Maluf, posto que o evento era patrocinado e organizado pela Secretaria Municipal de Esportes.
Já com as dolorosas experiências passadas, é injustificável que a promotora do espetáculo não exigisse policiamento adequado para a ocasião (o mesmo vale para o comando da Polícia Militar). Assim como é inconcebível que, nessas circunstâncias, o Pacaembu, também da prefeitura, fosse liberado com aquele arsenal ao alcance dos vândalos.
Só quero saber como o prefeito responderá à Justiça pelos prejuízos causados a nós, contribuintes, que pagamos os estragos, e pelo crime de responsabilidade, ao contribuir, por incúria, com os sangrentos acontecimentos de domingo passado.

Ufa, espero que a partir de amanhã possamos conversar sobre futebol. Afinal, a bola está rolando, né? E hoje tem até a estréia do São Paulo, que não trocou Válber pelo menino Bruno Carvalho, do Vasco e da seleção. Mas eu pergunto: Válber, que é craque, ainda joga? Se jogar, topará ir para a lateral, onde há um vazio que seria bem ocupado por Bruno?

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