São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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Memórias de um fóssil

PAULO FERNANDO SILVESTRE JR.
DA REPORTAGEM LOCAL

Um pesquisador brasileiro desenvolveu um processo de datação arqueológica que pode superar deficiências do carbono-14, método mais utilizado para determinar a idade de fósseis.
A técnica, desenvolvida por Sérgio Mascarenhas, do Instituto de Física da USP de São Carlos (244 quilômetros a noroeste de São Paulo), se baseia na contagem de elétrons dos fósseis que foram "desemparelhados (leia texto abaixo) pela radiação de minerais radiativos presentes no subsolo.
A principal vantagem do novo método sobre o carbono-14 é o seu alcance. Ao contrário deste último, que só consegue medir amostras orgânicas de no máximo 80 mil anos, o método de Mascarenhas se estende a algumas centenas de milhares de anos.
"O nosso método é rápido e as amostras não são destruídas quimicamente. Além disso, usa pequenas quantidades do material, apenas alguns gramas. O carbono-14 necessita muito mais, disse Mascarenhas à Folha.
O pesquisador mediu, por exemplo, a idade de fósseis encontrados em sambaquis (depósitos de conchas e ossos pré-históricos) do litoral de São Paulo. Os 4.900 anos indicados coincidem com datações feitas por carbono-14.
A técnica é derivada de outra observação de Mascarenhas, feita na década de 70. Naquela época, ele descobriu que ossos irradiados guardavam essa "informação em forma de uma memória magnética.
Mascarenhas foi até o Japão para comprovar a memória magnética em ossos das vítimas da bomba atômica lançada sobre Hiroshima em 6 de agosto de 1945.
Com pesquisadores da Universidade de Hiroshima e da Comissão de Pesquisa sobre a Bomba Atômica, ele mediu um nível de radiação dezenas de milhares de vezes superior ao aceito para um homem em um ano. Os resultados foram publicados na revista da Sociedade de Física Americana.
Mascarenhas conseguiu trazer amostras desses ossos para o Brasil, que hoje estão no Instituto de Física da USP de São Carlos.
O cientista brasileiro fez questão de ressaltar o aspecto pacífico da pesquisa. "É uma grande satisfação estar contribuindo para resgatar o papel da ciência como instrumento social -como a física médica- e cultural -como em arqueologia e artes- e não como instrumento bélico, disse.

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