São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 1995
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PFL reage com 'porrada' contra ataques de tucanos

GABRIELA WOLTHERS; DENISE MADUEÑO; SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PFL resolveu adotar ontem o estilo “bateu-levou” e revidar as críticas do PSDB. A estratégia obrigou o líder do partido na Câmara, José Aníbal (SP), a marcar um jantar de conciliação com a cúpula pefelista, amanhã, para tentar acalmar os ânimos.
Em nota oficial distribuída ontem, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, cobrou um esclarecimento público do ministro Sérgio Motta (Comunicações), sobre as críticas que fez ao partido na segunda-feira.
Parlamentares do PFL afirmaram que a nota foi um recado ao presidente Fernando Henrique Cardoso. O partido pretende deixar claro que não aceitará críticas calado e que FHC precisa tomar uma atitude em defesa da legenda.
No final da tarde, FHC cobrou explicações do ministro Sérgio Motta sobre declaração que fez anteontem no Rio em relação ao “fervor liberal” do PFL.
Segundo o porta-voz da Presidência, Sérgio Amaral, o ministro disse não ter se referido ao PFL. Amaral disse que Motta fez a crítica a setores da sociedade que pressionam por maior rapidez no programa de privatizações.
Na avaliação da cúpula pefelista, o partido saiu enfraquecido após a tentativa de estadualização do Banco Econômico, defendida principalmente pelo senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) e pela bancada baiana do partido.
O PFL considera que o episódio abriu brechas para que pessoas ligadas a FHC aproveitassem para combater o partido. Com a nota, o PFL pretende recuperar o espaço que sempre ocupou no governo.
Anteontem, Motta criticou indiretamente o PFL por cobrar rapidez na execução do programa de privatização, afirmando que era “contra essa febre liberal de dilapidação do patrimônio público”.
“Se a afirmação do ministro foi dirigida ao PFL, ele cometeu grave injustiça e prestou um desserviço ao governo”, afirma a nota oficial assinada por Bornhausen.
No domingo, o PFL já havia sofrido um ataque do presidente do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Pesquisa), o filósofo José Arthur Giannotti, amigo de FHC. Em artigo no “Jornal do Brasil”, ele comparou o PFL a um “câncer raro”.
“Se o partido levar porrada, vai dar porrada”, resumiu o vice-presidente do PFL, deputado José Jorge (PE).
“Durante dois dias, duas pessoas que chamam o presidente por ‘Fernando’ se manifestaram. Não podemos deixar que paire desconfiança sobre um partido que tem uma aliança com o governo”, disse o deputado Paulo Bornhausen (PFL-SC), filho do presidente do PFL.
O líder do partido na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), disse que, a partir de agora, o partido vai “tentar outros caminhos” para resolver os atritos com o PSDB.
“Quem está acima do ministro (Motta) é o presidente. Eu sou bombeiro, mas chega um determinado momento que você não consegue mais apagar os incêndios”, disse Inocêncio.
Motta se recusou a comentar a nota do PFL.

Para o “jantar de conciliação” foram convidados o vice-presidente Marco Maciel, Luis Eduardo Magalhães (PFL-BA), Jorge Bornhausen, Inocêncio Oliveira, Hugo Napoleão (PFL-PI), Sérgio Motta, Arthur da Távola (PSDB-RJ) e Sergio Machado (PSDB-CE).

Colaborou SILVANA DE FREITAS, da Sucursal de Brasília

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