São Paulo, sexta-feira, 1 de setembro de 1995
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Fito Paez conquista público cantando músicas em português

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

O cantor e tecladista argentino Fito Paez armou a lona de seu "Circo Beat" anteontem no palco do Palace para o primeiro grande show no Brasil em dez anos de flerte com o mercado nacional.
O pop sofisticado de Paez arrebatou o público que lotou a casa -é verdade que boa parte da platéia era de compatriotas de Paez, alguns com camisa da seleção de futebol argentina.
Como aluno aplicado, Paez se esforçou ao máximo para aproveitar a situação. Cantou em português, falou em portunhol, e contou com a ajuda do cantor Djavan e do guitarrista Herbert Vianna.
Com Djavan, Paez cantou "She's Mine", do recém-lançado "Circo Beat" e emendou com "Samurai", do brasileiro.
Vacilante no princípio, Djavan se recuperou, fez um bom dueto e saiu aplaudido de pé.
Herbert cantou com Paez a empolgante "Mariposa Tecknicolor" e "Trac-Trac" -canção do argentino gravada pelos Paralamas.
No bis, Paez surgiu no meio do público para cantar duas músicas, o tango "La Ultima Curda" e, em português, "Desde Que O Samba É Samba" -uma homenagem a Caetano Veloso.
O show começou com as bases pré-gravadas da introdução de "Circo Beat".
Com simpatia, talento e muito carisma, Paez conseguiu driblar os problemas do espetáculo -como uma horrível microfonia no início.
O repertório do show foi baseado em "Circo Beat" ("Se Disney Despertase", "El Jardin Donde Vuelan Los Mares").
Músicas de discos anteriores também foram tocadas. Como a dançante "Trafico Por Katmandu" e "El Amor Después del Amor", faixa título de um sucesso retumbante na Argentina que não chegou a vender 5.000 cópias aqui.
Algumas canções são um tanto anacrônicas para o público brasileiro. Só um argentino cabeludo para cantar sorrindo "hay un hippie dentro de mí".
Se Paez é um artista irretocável e fez uma apresentação empolgante, não foi por causa da banda.
Os teclados diante das duas vocalistas de apoio, Alina Gandini e Laura Vasquez, eram objeto de decoração. As duas rebolavam mais do que tocavam.
Quando resolviam se aproximar dos instrumentos, davam a impressão de terem estudado teclado na mesma escola de Linda McCartney -que costuma fazer figuração nos shows do marido, Paul McCartney. Nenhum problema se cantassem bem. Mas não foi o caso.
O percussionista e tecladista Nico Cota também não é lá essas coisas. Mas o que se pode esperar de um músico que pendura um pôster de Bruce Lee no teclado? Ao todo, haviam cinco (!) teclados no palco.
O guitarrista Gabriel Carambula é qualquer nota. Do tipo que acha que pose compensa a falta de talento. Passou o show imitando Keith Richards (Rolling Stones) e fazendo caras e bocas enquanto cometia solos medíocres.
No fim, ele se arrastou no chão e tocou a guitarra com os dentes. Fecho digno de um presepeiro.
Nada que empanasse a performance de Paez.

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