São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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Polícia evita comentários

GEORGE ALONSO
DO ENVIADO ESPECIAL

A Polícia Militar de Rondônia está na defensiva. O resultado dos laudos de morte de nove posseiros, que apontaram tiros a curta distância (na cabeça, na nuca, no peito, e de cima para baixo), colocou a corporação em silêncio.
"Se houve excessos, tudo será investigado e punido", diz o tenente-coronel João Carlos Balbi, 41, que preside o IPM (Inquérito Policial Militar), em Vilhena.
A frase de Balbi é repetida por qualquer comandante da corporação. Nenhum soldado tem permissão para dar entrevistas.
A hipótese de espancamentos e, principalmente, de execuções sumárias de posseiros é contestada pelo oficialato.
O próprio Balbi parece adiantar uma linha defesa da Polícia Militar do Estado.
Quando indagado sobre o resultado dos laudos, ele declarou: "Os posseiros tinham cinco trincheiras cavadas. Os PMs podem ter se aproximado, rastejando, e atirado de cima para baixo, de perto, contra posseiros armados".
Além disso, segundo ele, "um tiro disparado por um soldado que rasteja pode atingir a cabeça ou a nuca de posseiros entrincheirados".
Ele citou também as bombas caseiras apreendidas, feitas com bambu e pólvora.
Segundo a PM, os posseiros não demonstraram em nenhum momento intenção de negociar e abandonar a área da fazenda.
Ao comentar a questão agrária do Estado, Balbi disse também que, entre os invasores, há muita gente que já tem (ou teve) terras, obtidas com outras ocupações e depois vendidas.
Cícero Ferreira Neto, 37, o Topa-tudo, um dos líderes dos sem-terra, admite que isso possa acontecer. Mas ressalva: "Basta que o Incra levante seus cadastros e só dê a terra a quem nunca se beneficiou".
A bomba está nas mãos do Incra, que tem dificuldades para fazer assentamentos no Estado. Não há terras devolutas. O órgão licitou grandes faixas de Rondônia não deixou reservas para futuros assentamentos.
Independentemente dessa polêmica, Balbi insistiu em dizer que, "apesar da suspeita que as pessoas têm em relação à Justiça Militar, ela é mais rigorosa que a civil".
Segundo ele, "é mais fácil um soldado admitir um erro a outro do que a um delegado". O governador Valdir Raupp (PMDB) já declarou que "os culpados vão ter de aparecer".
(GA)

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