São Paulo, quarta-feira, 6 de setembro de 1995
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Hillary Clinton faz críticas ao governo da China em discurso

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A primeira-dama dos EUA, Hillary Rodham Clinton, criticou ontem em Pequim a imposição de abortos e esterilizações pela política de controle da natalidade da China. No segundo dia da Conferência Mundial da Mulher, ela atacou ainda restrições impostas pelo governo chinês ao encontro de organizações não-governamentais (ONGs), que também ocorre em território chinês.
O pronunciamento surpreendeu pela veemência. Hillary, ao discursar sobre abortos, evitou mencionar a China, embora deixasse claro seu alvo. Quando criticou a tentativa de se limitar a liberdade de expressão no encontro das ONGs, ela não escondeu que buscava atacar o governo chinês.
O palco desse embate EUA-China é a Quarta Conferência Mundial da Mulher, organizada pela ONU e que termina dia 15. Reúne delegações oficiais de mais de 180 países, no maior encontro da história das Nações Unidas e no maior evento internacional já realizado no país.
O ataque de Hillary coloca mais lenha na fogueira da atual crise diplomática entre os dois países, a pior dos últimos 16 anos. A escalada de confrontos aumentou em junho, quando a China prendeu Harry Wu, cidadão norte-americano nascido na China e acusado de espionagem.
No final de agosto, a China expulsou Harry Wu, em vez de fazê-lo cumprir uma pena de 15 anos de prisão. O ato foi interpretado como uma reaproximação entre Washington e Pequim.
Hillary Clinton condicionava sua presença na conferência à soltura de Harry Wu. Mas, em Pequim, num sinal das tensões, ela não agendou nenhum encontro com autoridades chinesas na sua visita de dois dias. Amanhã ela estará na Mongólia.
Ao defender o respeito aos direitos humanos, Hillary Clinton, 47, irrita o governo chinês, mas ganha pontos junto à opinião pública norte-americana. Sua ida a Pequim foi criticada como sinal de aprovação da administração Clinton às políticas da China.
No poder desde 1949, o Partido Comunista chinês governa com mão de ferro e não permite liberdade de expressão. Proibiu que as participantes do encontro de ONGs façam protestos fora do local das reuniões. Hillary Clinton também lamentou que "muitas mulheres que queriam vir a Pequim não puderam fazê-lo.
A China não concedeu visto de entrada a "organizações hostis, como as que defendem a independência do Tibete, região do sudoeste ocupada pela China desde 1950.
País mais populoso do mundo, com 1,2 bilhão de habitantes, a China impõe uma política de controle da natalidade conhecida como "um casal, um filho. A aplicação desse sistema leva a abortos e esterilizações forçadas.
"É uma violação dos direitos humanos quando a mulher não tem liberdade para planejar sua própria família, disse Hillary.
A chefe da delegação do Vaticano, a norte-americana Mary Ann Glendon, também criticou a China indiretamente. "Há um claro consenso na comunidade internacional de que o aborto não deve ser promovido como instrumento de planejamento familiar e de que todos os esforços devem ser feitos para eliminar os fatores que levam mulheres a recorrerem ao aborto, afirmou a representante.
Glendon, primeira mulher a chefiar uma delegação do Vaticano, será uma das estrelas da conferência. Ela vai comandar a ofensiva que deve reunir católicos e muçulmanos contra o aborto, considerado por eles um pecado.

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