São Paulo, sexta-feira, 8 de setembro de 1995
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Conferência da mulher começa a discutir termos do documento final

JAIME SPITZCOVSKY

JAIME SPITZCOVSKY; SUZANA SINGER
DE PEQUIM

SUZANA SINGER
A Quarta Conferência Mundial da Mulher mergulhou ontem em Pequim nas reuniões a portas fechadas para negociar mudanças na "plataforma de ação", o documento final da reunião.
Os trechos em discussão estão entre colchetes, ou "colchetes sagrados", referência aos países que defendem linha mais conservadora nos problemas referentes à mulher.
A conferência, que termina dia 15, reúne delegações de 181 países, no maior evento já organizado pelas Nações Unidas.
O documento final vai conter as diretrizes que propõem soluções para os problemas da mulher nos próximos dez anos, quando ocorre a próxima conferência.
Nas 120 páginas da "plataforma de ação", o capítulo mais polêmico é "saúde". Tudo que se refere a educação sexual, métodos anticoncepcionais e aborto aparece entre colchetes. O texto deve ser aprovado por consenso.
Os defensores do aborto e das propostas "liberais" disseram ontem estar ganhando a batalha. Nafis Sadik, diretora-executiva de um organismo da ONU ligado a problemas de população, afirmou que o início da negociação se mostrou favorável às "forças liberais": EUA, Canadá e países da União Européia.
Em outro grupo, os países islâmicos, como Irã, Iêmen, Líbia e Sudão. Os dois grupos rejeitam o aborto, considerando-o um pecado. Mas o Vaticano tem negado as afirmações de que mantém campanha silenciosa na conferência ou até mesmo de que busca uma aliança com países islâmicos.
"Buscamos uma posição construtiva", declarou Mary Ann Glendon, chefe da delegação do Vaticano e uma das principais estrelas da conferência.
Professora de direito na prestigiosa universidade de Harvard (EUA), Mary Ann Glendon é a primeira mulher a chefiar uma delegação do Vaticano.
A "plataforma de ação" não propõe a legalização do aborto. Mas afirma que é preciso dar assistência a mulheres vítimas de abortos malfeitos e sugere "considerar a possibilidade de revisar as leis que prevêem medidas punitivas contra mulheres que tenham feito abortos ilegais".
Um parágrafo entre colchetes, por exemplo, diz que: "O direito de toda mulher de controlar sua própria fecundidade é fundamental para a sua emancipação".
Uma avaliação indica que 20% da "plataforma de ação" ainda está entre colchetes. O documento deve ficar pronto até dia 13. Para atingir o prazo, as negociações vão precisar de ritmo acelerado.

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