São Paulo, sábado, 9 de setembro de 1995
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ONGs fazem as pazes com polícia chinesa no encerramento da reunião

SUZANA SINGER
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM

O encontro das ONGs (organizações não-governamentais) terminou ontem em clima de confraternização com os chineses.
Os organizadores do fórum -que aconteceu paralelamente à Quarta Conferência Mundial da Mulher- deram uma entrevista coletiva junto com o comitê chinês para tentar superar os incidentes ocorridos nesses dez dias de reunião em Huairou, distrito a 55 km de Pequim.
No sábado passado, dia 2, a direção do fórum ameaçou suspender o encontro, se os chineses não diminuíssem o policiamento e resolvessem os problemas de falta de ônibus entre Pequim e Huairou.
Ontem, a tailandesa Supatra Masdit elogiou, em nome dos organizadores, a infra-estrutura de acomodação, transporte e os serviços dos voluntários chineses que trabalharam como intérpretes.
"Os comitês das ONGs e da China trabalharam juntos, inclusive para resolver as questões de segurança", disse Masdit.
O que mais irritou as participantes foi a presença de policiais chineses, à paisana, filmando alguns workshops e entrevistas dadas a repórteres de TV.
Além disso, o governo chinês determinou que protestos só poderiam ocorrer em uma área determinada, para evitar o contato com a população local.
Pelo comitê chinês, falou Xu Zhijian: "Apesar de todos os percalços, comuns em um evento desse porte, podemos dizer que fizemos um ótimo trabalho na organização do encontro".
Zhijian explicou, por 40 minutos, todos os problemas com hospedagem, alimentação, transporte e locomoção de deficientes.
Para cada caso, deixava claro que a culpa também era das participantes -que se inscreveram depois do prazo, não se hospedaram nos hotéis indicados, não usaram os intérpretes etc.
"O fórum transcorreu sem maiores problemas, em um clima de seriedade. Apenas um grupo pequeno de pessoas tentou criar incidentes, inventando histórias ou deturpando fatos", disse Zhijian.
O que deveria ser uma entrevista coletiva acabou em dez minutos. Zhijian respondeu apenas uma pergunta de um jornalista estrangeiro sobre vistos -"Nenhum visto foi recusado. Todas as pessoas inscritas pela ONU tiveram livre acesso ao país"-, e encerrou a conversa.
No total, 31 mil pessoas, de 150 países, participaram do encontro de ONGs, transformando essa conferência da mulher na maior reunião já organizada na história da ONU.
Para Masdit, o fórum marcou um momento de mudança no movimento feminista.
"Mas incidentes e diferenças de opinião entre os grupos mostraram quanto trabalho ainda precisa ser feito para que o movimento de mulheres possa chegar à paz", disse a tailandesa.

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