São Paulo, sábado, 9 de setembro de 1995
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Mulheres; Regina Casé; Zumbi; Educação; Arquivo do Estado; Álcool; Com alma; Cruzado

Mulheres
"A propósito do artigo publicado em 4/9 ('Mulheres e cotas'), da deputada Marta Suplicy, gostaria de ponderar o seguinte: mulheres determinadas a emprestar o seu quinhão à história de vários países, principalmente nas duas últimas décadas, têm assumido funções e cargos públicos por conquista. Admitir-se uma 'reserva de cotas' como forma de garantir a participação das mulheres no contexto político brasileiro é o mesmo que dizer que nós mulheres, por nós mesmas, não temos a capacidade de demonstrar ao eleitorado o nosso dinamismo à causa pública. A questão não se resume a ocupar o espaço masculino, mas às mulheres conquistarem por merecimento próprio esse lugar".
Maria Vitória M. Molina (São Paulo, SP)

Regina Casé
"André Forastieri propôs a morte da atriz Regina Casé como uma solução para algo do qual ele não gostou. O artigo provocou inúmeros protestos, em parte por se tratar de uma das maiores atrizes brasileiras, mas penso que, também, pelo modelo primitivo do qual se utilizou o jornalista: 'Quem não é meu amigo é meu inimigo, quem não está comigo está contra mim' etc., base psíquica para o desenvolvimento da intolerância em relação às diferenças. Matinas Suzuki Jr. fez alusão a isso ao descrever como autoritária a personalidade de seu colega. Como psiquiatra e psicanalista penso que descrição de personalidade é um argumento necessário, mas não é suficiente. Relembro um episódio ocorrido em Pernambuco em 1985, quando um capitão da PM, num momento delirante, ordenou o fuzilamento dos passageiros homens de um ônibus, por se sentir por eles perseguido. Como profissional, já vi personalidades autoritárias e delirantes que não necessariamente matam aqueles de quem divergem ou por quem se sentem ameaçadas. Quero destacar o perigo do poder que alguns desses indivíduos dispõem, a ponto de serem obedecidos num fuzilamento, ou propondo aos leitores de um jornal a morte de pessoas de quem não gostam. Acredito que a Folha compartilha a idéia de que é sua função promover valores democráticos e humanistas, e de que não se pode confundir liberdade de imprensa com a difusão de idéias perversas e primitivas."
Lucila Mattos Porto Pato (São Paulo, SP)

Zumbi
"O ombudsman da Folha, Marcelo Leite, intitulou seu artigo de 3/9 de 'O zumbi', referindo-se, conforme suas próprias palavras, ao 'morto-vivo' Fernando Collor da entrevista ao 'SBT Repórter'. O jornalista certamente está consciente da confusão semântica que pode existir entre a minúscula e a maiúscula figura histórica: um, símbolo do anti-herói, outro, símbolo da resistência e dignidade de uma raça historicamente excluída. Ambos de Alagoas. A raça negra e o povo brasileiro não merecem essa confusão semântica."
Alzira Rufino (Santos, SP)

Educação
"O Senado demonstrou total falta de preocupação com a educação ao aprovar o substitutivo do senador Darcy Ribeiro ao projeto de lei da Câmara dos Deputados que dispõe sobre as diretrizes e bases da educação. Os senadores rasgaram o trabalho desenvolvido por parlamentares de todos os partidos durante vários anos na Câmara dos Deputados. O projeto aprovado tramitou na Comissão de Educação sem que se discutisse seu mérito."
Fernando Araújo, diretor da Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das Universidades Brasileiras (Brasília, DF)

Arquivo do Estado
"Sobre matérias publicadas na Ilustrada, nos dias 29/8 e 31/8, sob os títulos 'Curitiba quer ajudar Arquivo de SP' e 'Arquivo transforma história em lixo', é importante ressaltar que o governo do Estado tem se empenhado ao máximo em manter e conservar a memória de nosso país, a história que está contida nos documentos do Arquivo do Estado. Por isso mesmo mantivemos, apesar das dificuldades que atravessamos, o quadro de funcionários desse departamento, numa média superior à dos últimos dez anos. É também por reconhecer a importância do Arquivo do Estado no contexto cultural de nossa terra, que o governo do Estado se propôs a, no menor prazo possível, tornar realidade a mudança para seu novo prédio. Ao assumirmos a Secretaria de Estado da Cultura, encontramos o Arquivo do Estado em precárias condições e suas instalações em péssimo Estado; as obras do novo prédio totalmente paralisadas, desde meados de 94, por falta de pagamento e seus funcionários contratados via Baneser. A dívida em atraso, do novo prédio, sobe hoje a R$ 8 milhões. Além de uma previsão de custo, até a conclusão da obra, de outros R$ 9 milhões. Contratos que estamos renegociando com a empreiteira responsável para, a curto prazo, podermos reiniciar as obras e transferir o Arquivo do Estado para seu novo prédio no terminal do Tietê, com toda segurança e condições técnicas ideais. Ao mesmo tempo, estamos em negociações com universidades para a realização de convênios que permitirão aos funcionários do Arquivo do Estado -que em nenhum momento teve suas atividades paralisadas- continuarem seu trabalho. Esses convênios permitirão parcerias na gestão do departamento. O primeiro deles, aprovado pelo conselho universitário da Unesp no último dia 17/8, será firmado a curtíssimo prazo."
Marcos Ribeiro de Mendonça, secretário de Estado da Cultura (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Elvis Cesar Bonassa - Os convênios com universidades enfrentam problemas legais que praticamente impedem sua implantação, a despeito da aprovação pelos conselhos universitários. Em suas negociações com o Ministério da Cultura para obter recursos, o secretário nunca colocou o Arquivo em posição de prioridade. As obras serão retomadas agora, passados nove meses do início desse governo, graças à intervenção pessoal do governador Covas.

Álcool
"Os EUA querem implantar o seu pró-álcool e, para tanto, vêm ao Brasil em busca de informações. Enquanto exigem uma lei de patente, enquanto pagamos royalties por marcas de produtos, grifes de vestuários, estarão eles dispostos a nos pagar pelo desenvolvimento tecnológico do binômio motor/combustível brasileiro? Quanto?"
Jayme de Seta Filho (São Paulo, SP)

Com alma
"Li o artigo 'Vergonha pernambucana', na Revista da Folha do dia 25/6. Se o nosso saudoso poeta Manuel Bandeira fosse vivo, e tomasse conhecimento desse trabalho, comporia um grande poema. Marilene Felinto o escreveu com alma."
Antonio Carlos R. Fonseca (Tatuapé, SP)

Cruzado
"Quero registrar aqui meu descontentamento em saber que a Folha tem em seu quadro de colunistas o senador e ex-presidente José Sarney. Como ele pode dizer que o Cruzado não foi eleitoreiro? Alguns meses após as eleições de 15 de novembro, seu partido tomava conta da política nacional e a economia brasileira caía novamente em desgraça. Jamais os brasileiros irão se esquecer, sr. ex-presidente, que no final de seu governo a inflação atingiu a casa dos 80% ao mês. Jamais vamos nos esquecer de seus fiscais, de suas tablitas, de seus "brasileiros e brasileiras".
Elias Antonio Fernandes (São José dos Campos, SP)

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