São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Futebol brasileiro fica dependente da TV

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

São Paulo e Vasco encontram-se no lusco-fusco deste domingo em São Januário para atender as exigências da Globo, que trava uma disputa com o SBT paralela ao torneio da bola propriamente dito.
Claro que, para os jornais, esse horário é inapropriado. Mas se levarmos em conta os novos hábitos da imensa maioria dos brasileiros, que vivem pregados diante da telinha, sobretudo nas noites de domingo, a coisa faz sentido.
O que não faz sentido é o futebol brasileiro ficar tão dependente das TVs como agora. Há séculos defendo tal parceria, desde os tempos em que a TV era exorcizada como um demônio que afugentava o público dos estádios e ameaçava de morte por inanição o futebol, na cabeça dos eternos conservadores.
Há 20, 25 anos, o mundo já caminhava claramente nessa direção: o lugar dos espetáculos de massa não mais seria o estádio gigantesco, mas a telinha da TV, diante da qual estaria firme e tesa a massa a quem o espetáculo se destinaria.
Os que se abalassem a ir aos estádios seriam apenas parte do show, meros figurantes de uma superprodução a la De Mille dos tempos modernos.
Por isso, os estádios deveriam sofrer uma reciclagem: ao invés de priorizarem os vastos espaços para acolher multidões incalculáveis, teriam de reduzir esses espaços, aperfeiçoá-los, oferecendo àquele novo público muito mais conforto e serviços melhores.
Ao mesmo tempo, o calendário do nosso futebol teria de ser elaborado com maior acuro e discernimento, com a realização de torneios bem engendrados, com regulamentos simples e inteligentes.
Os campos, tratados com esmero e carinho. Assim, todos sairiam ganhando nesse jogo de interesses mútuos: o futebol, os jogadores, os torcedores dos estádios, a grande massa de telespectadores e as TVs, até mesmo os cartolas, que deixariam de ser execrados pela mídia.
Qual o quê! Não avançamos nem um milímetro nesse sentido nas últimas duas décadas. Ao contrário: regredimos à estaca zero. E, com os Ricardos Teixeiras, Caixas D'Águas e Farahs da vida, nem pensar em reversão desse quadro.
Bate-me, agora, porém, uma expectativa: quem sabe se, reféns da TV, os cartolas não acabem por submeter-se definitivamente à ela, nunca por despreendimento mas sim por falta de outra alternativa? Nesse caso, o pessoal da TV, que é do ramo do espetáculo, bem que poderia começar a mudar esse cenário, com seu poderoso controle remoto. Que tal?

A saída emergencial para o futebol paulista, abatido pelos estádios em ruína e pela violência das torcidas organizadas, está na cara: mais de 20 mil espectadores lotaram em paz o campo de Prudente para ver um emocionante jogo de futebol entre Palmeiras e Botafogo, neste 7 de setembro. São Paulo, Corinthians e Palmeiras têm legiões de torcedores por esse interiorzão afora. É só pegar os caminhos abertos pelos bandeirantes, gente.

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