São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 1995
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Sarney se opõe à privatização da Vale

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A estatal Companhia Vale do Rio Doce virou a nova moeda no contencioso entre o senador José Sarney (PMDB-AP) e o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Sarney quer proibir a venda da Vale, a estrela do programa de privatização do governo FHC.
"A Vale não é apenas uma estatal, mas uma agência de financiamento, argumentou o senador, em defesa da proposta do líder do PMDB no Senado, Jáder Barbalho (PA), que impede o governo de vender sua parte na empresa.
"Concordo com o Jáder em gênero, número e grau", disse Sarney. A nova bandeira do presidente do Senado foi lançada menos de 24 horas depois de reunir-se com FHC no Palácio da Alvorada.
A conversa -ocorrida a convite de Fernando Henrique- foi uma tentativa do presidente de diminuir a oposição do PMDB no Senado e ganhar apoio aos projetos do governo no Congresso.
A privatização da Vale não foi discutida no encontro de quase duas horas, embora represente um dos maiores contenciosos que o governo enfrenta no Senado. "Acabei esquecendo de falar nisso", contou ontem Sarney.
Duas semanas atrás, as lideranças governistas conseguiram evitar a aprovação do projeto do senador petista José Eduardo Dutra (SE), que complica a venda da Vale do Rio Doce. O projeto exige um aval prévio do plenário do Senado.
A votação da proposta foi adiada até o início de outubro. O Palácio do Planalto ganhou tempo, mas o líder do governo, senador Élcio Álvares (PFL-ES), não descarta uma derrota para FHC.
"A Vale é um caso complicado porque a estatal tem uma influência importante em vários Estados", disse Álvares. "Tenho levado essas posições ao presidente", comentou o líder governista.
Ao ouvir Sarney defendendo a retirada da Vale do programa de privatização, Álvares demonstrou preocupação: "O presidente vai ter de se desdobrar porque esse vai ser um semestre de grandes negociações.
O senador do PFL informou que o Planalto já discute a possibilidade de investir o dinheiro arrecadado com a venda da Vale em uma grande obra ou projeto de desenvolvimento do país. Essa seria uma alternativa para convencer os senadores a não bloquear a privatização da empresa.
Um dos argumentos dos senadores para combater a venda da estatal são os projetos mantidos pela empresa em vários municípios e que seriam suspensos com a sua venda para a iniciativa privada.
Outro argumento é que a venda das ações do governo na Vale serviria apenas para reduzir uma parcela dos juros pagos para financiar a dívida pública. O valor arrecadado não seria suficiente nem para cobrir o efeito dos últimos meses de política de juros altos de FHC.
O governo planeja vender a estatal em 1996, segundo previsão feita no Plano Plurianual. É a maior empresa incluída no programa de privatização, com o qual pretende-se obter R$ 21,4 bilhões até o fim do mandato de FHC.
O patrimônio total da Vale chegou a ser avaliado em R$ 16 bilhões por uma empresa de consultoria estrangeira. A última avaliação feita pelo governo, porém, diz que o valor de mercado da estatal é de R$ 9,6 bilhões, dos quais a União detém 51%.
FHC foi informado oficialmente da proposta do líder Jáder Barbalho de sustar a privatização da Vale. Em carta enviada ao Planalto, Barbalho classifica da venda da empresa um "equívoco".
A venda foi defendida por Fernando Henrique na campanha eleitoral. Os estudos para promover a privatização começaram em março e ainda não foram concluídos.
Além da Vale do Rio Doce, o governo federal já anunciou a intenção de vender as empresas geradoras de energia elétrica do grupo Eletrobrás: Eletronorte, Eletrosul, Chesf e Furnas.

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