São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 1995
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O padrão acabou

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Junto com Boni, foi-se o padrão de qualidade.
Ouvia-se ontem, na Globo, "a polícia caça o homem que tentou roubar um carro diante das câmeras".
As câmeras eram da própria Globo, que criou o fato no Fantástico e agora acompanha o desdobramento da novela. Exatamente como no Aqui Agora, em capítulos.
E com direito a detalhes de rancor populista, do tipo "e já descobriram que ele é universitário". Ou ainda, "o ladrão é um médico".
Talvez a Globo não tenha mesmo outro caminho, frente à concorrência do SBT e agora da Record.
A saída é popularizar.
Gritar em primeira manchete, no Jornal Nacional, "o salário de milhares de trabalhadores está acabando antes do meio do mês". Ou ainda, "os trabalhadores começam a viver no aperto".
"Caçar", para a ação da polícia, "aperto", para as dificuldades salariais dos trabalhadores. O padrão acabou.
Graças a Deus.

O preço
A cobertura popular tem preço. Que o diga o Aqui Agora.
Não tem edição em que a polícia, aliada, não receba elogios. Como ontem, na legenda para Gil Gomes:
- Polícia liberta professorinha de Mauá.
Semana passada, também na legenda de Gil Gomes:
- Astúcia policial desvenda resgate do amor.
Para a polícia, tudo.
Jeitinhos
Outra manchete, ontem no Jornal Nacional:
- Servidores buscam velhos jeitinhos para burlar o novo horário de trabalho.
Em fase de rancor populista, a Globo tanto fez que ontem conseguiu uma declaração de uma funcionária pública, sobre a jornada de oito horas, nos seguintes termos:
- Não concordo.
- Por quê?
- Porque o funcionário público produz muito mais trabalhando seis horas por dia.
É piada para a geral. O ministro da Administração, na mesma linha, seguiu com a caça às bruxas servidoras:
- Eu pergunto, não é razoável que o funcionário público trabalhe oito horas? Eles ganham tanto quanto no setor privado, ou mais.

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