São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 1995
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Sem respostas

ANDRÉ LARA RESENDE

Vale a pena voltar ao livro do professor Charles Kindleberger. "Manias, Panics and Crashes" sempre foi uma leitura interessante e agradável -o que não pode ser dito da maioria dos textos de economia-, mas sua atualidade agora a torna indispensável.
Ondas de irracionalidade especulativa, seguidas de corridas, pânico e iliquidez, ocorrem com frequência impressionante. Ao contrário do que pretendem os defensores mais intransigentes das hipóteses de equilíbrio ubíquo, racional e instantâneo, os mercados estão sujeitos a falhas. Esse é o ponto de partida do professor Kindleberger para analisar algumas atualíssimas questões de política econômica.
Atenção: o professor não é nenhum intervencionista. Muito pelo contrário, afirma que se fosse obrigado a optar entre os dois extremos, entre os que acreditam que os mercados estão sempre certos e os que acreditam que eles estão sempre errados e querem substituí-los pela regulamentação burocrática, optaria sem pestanejar pelos primeiros. Sua preocupação é com os casos de grandes falhas dos mercados. Há algo a ser feito?
A presença de um emprestador de última instância, por exemplo, alguém que injete recursos no sistema, evite as quebras que poderiam causar pânico, é suficiente para evitar o colapso do sistema financeiro? Deve-se ou não evitar a todo custo o prejuízo dos depositantes e dos investidores? Essas perguntas não têm respostas fáceis, diz Kindleberger.
Em todas as crises financeiras do período analisado por ele, entre 1720 e 1975, um emprestador de última instância foi acionado em resposta a exigências, pressões e protestos.
O papel do emprestador não foi, contudo, sempre executado de forma eficiente. A qualidade da intervenção foi determinante tanto na profundidade da crise quanto na velocidade da recuperação no pós-crise.
Quando e quanto deve ser injetado no sistema? Para quem e em que condições? Mais perguntas de difícil resposta. Muito pouco, muito tarde, é uma triste expressão em política econômica. Em excesso e de forma precipitada não é uma alternativa muito superior. O "timing" é uma arte. Isso não diz nada e diz tudo, conclui Kindleberger.
A dificuldade advém de um grave dilema: se os agentes souberem que existe uma rede de segurança, sempre pronta para entrar em ação e evitar as perdas, a atuação irresponsável será estimulada. O bem público, representado pelo emprestador de última instância, enfraquece a responsabilidade privada da boa prática bancária.
Se a proteção aos depositantes é questionável, a proteção aos acionistas e aos administradores das instituições que quebram é absolutamente injustificável. Mas, infelizmente, as duas nem sempre são dissociáveis na prática.
A propósito, Kindleberger cita o sovina Pére Grandet, personagem de Balzac: "A bancarrota é um roubo que a lei, infelizmente, toma sob sua proteção. Um assaltante das estradas é preferível a um banqueiro quebrado: do primeiro pode-se sempre tentar se defender, ele arrisca a vida; mas do segundo..."

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