São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 1995
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Pênis vira personagem de campanha contra Aids

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um ator vai conversar com seu próprio pênis (chamado Bráulio) sobre a necessidade de usar camisinha nos quatro filmes da nova campanha contra Aids promovida pelo Ministério da Saúde.
É a campanha mais agressiva do governo. Mostrará na TV como colocar uma camisinha e vai falar abertamente sobre sexo anal e oral.
Em um trecho da música para o rádio, o texto diz: "Bráulio é safado/ Grosso, metido e velhaco/ Entra em qualquer buraco/ Ele é um grande gozador" (leia abaixo a letra). O ritmo é de forró e a interpretação, de Genival Lacerda.
A campanha vai se referir ao sexo anal por "brincar lá atrás". Em um trecho do filme, Bráulio "diz" que quer "variar". O ator, que se olha no espelho de um banheiro, gosta da idéia e afirma: "Mas tem que usar camisinha".
O ator encarna um tipo definido com malandro e conquistador. Em um dos filmes ele está sentado em um bar, quando Bráulio começa a se "manifestar" sob sua calça por causa da passagem de uma mulher.
No filme destinado a mostrar como se usa a camisinha, Bráulio comemora: "Oba, hoje vou aparecer na televisão". O ator diz "não, você é muito feio" e utiliza um pênis de borracha. Ele é colocado sobre uma mesa preta e o ator mostra todas as etapas: "primeiro aperte a ponta para sair o ar, depois desenrole até o Bráulio ficar todo coberto".
Esse filme só vai ser mostrado depois das 21h, na expectativa de que não seja visto por crianças.
O sexo oral será abordado em cartazes, folhetos e gibis. Segundo o governo, os homens têm dúvidas sobre o risco de contaminação por meio de sexo oral e anal. O texto da música para o rádio fala do "vale tudo".
O Ministério da Saúde afirma que tanto no sexo oral como no sexo anal existe o risco de contágio. Toda a campanha está direcionada para o público masculino de baixa renda, de 20 a 40 anos.
Segundo a avaliação do governo, esse público ainda tem muitas restrições ao uso de camisinha.
A campanha vai estar centrada na necessidade de usar o preservativo -a única forma segura, segundo o governo, de evitar a Aids. O orçamento da campanha, que será exibida em TV e no rádio durante um mês, é de R$ 4,5 milhões. Com esse dinheiro o governo poderia comprar 26 milhões de camisinhas. Este ano foram compradas cerca de 35 milhões de camisinhas.
O ministro da Saúde, Adib Jatene, definiu a campanha como a "mais ousada" do governo. Rindo, afirmou: "Só que a idéia não é minha, eu tô fora".
A coordenadora do programa de Aids do Ministério da Saúde, Lair Guerra de Macedo, disse que antes de a campanha ser produzida o governo pesquisou o tipo de personagem que a população gostaria de ver na TV.

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