São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 1995
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A volta do topete

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - A notícia fez tremer os alicerces do Palácio do Planalto. Itamar Franco já prepara sua volta ao Brasil.
O ex-presidente confiou o segredo aos amigos mais íntimos. Espera estar de volta dentro de seis meses.
Fernando Henrique queria manter o antecessor além-mar por período mais longo. Se possível, até o final de seu mandato. Mas Itamar não vê a hora de voltar.
Ele diz que o limite de sua permanência em Lisboa deve coincidir não com o mandato de Fernando Henrique, mas com o de Mario Soares, presidente português. Soares deixará o Palácio de Belém em março de 96.
O Planalto receia que, de volta, Itamar termine por constituir-se num problema. Seria um novo José Sarney, um outro ACM. Enfim, mais um inimigo fraternal do governo.
Itamar faz restrições ao governo de seu ex-ministro da Fazenda. Não se conforma, por exemplo, com a idéia de privatizar a Cia. Vale do Rio Doce. Queixa-se também do desemprego. Mas demonstra certo apreço por Fernando Henrique.
Tenta, de resto, retribuir a deferência com que tem sido tratado. No último 7 de setembro, apressou-se em responder reportagem do "Diário de Notícias" com ataques a Fernando Henrique.
Para o jornal português, o presidente brasileiro "deixou fugir das mãos a liderança política". A resposta de Itamar ocupou três laudas.
"Sei que o presidente Fernando Henrique, cidadão de singular biografia na luta pela liberdade e pela democracia, está cumprindo a autoridade do mandato recebido de 35 milhões de brasileiros", anotou. Em outro trecho, chamou o sucessor de "competente, determinado e patriota".
Ainda assim, avalia-se no Planalto que, de volta à terra das palmeiras, Itamar cantará mais que o sabiá de Gonçalves Dias. Há uma sólida impressão de que seu canto será de oposição.
Em tempo: na última terça-feira, informei que interesses políticos impediam a chegada de 92 toneladas de alimentos do Comunidade Solidária ao estômago de miseráveis famintos de Itapeva (SP). Uma boa notícia: o prefeito Antônio Brugnaro e a Conab chegaram a um acordo. É o primeiro passo para a distribuição da comida.

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