São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
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Ex-aliado acusa Macedo de usar dinheiro do tráfico

FÁBIO GUIBU PAULO MOTA
DA AGÊNCIA FOLHA

Ex-coordenador da Igreja Universal do Reino de Deus nas regiões Norte e Nordeste, o pastor Carlos Magno de Miranda, 40, afirma que o bispo Edir Macedo usou dinheiro do narcotráfico colombiano para comprar a TV Record.
Miranda, hoje líder da Igreja Espírito Santo de Deus, também acusa Macedo de contrabandear equipamentos para montar suas rádios. Ele fez as primeiras acusações contra o bispo em dezembro de 90. Candidato a deputado federal pelo PMDB-CE, Macedo não foi eleito e teria se sentido traído pela falta de apoio. A seguir, trechos da entrevista concedida à Agência Folha.

Agência Folha - À época de seu rompimento com Edir Macedo, o sr. o acusou de ter recebido dinheiro do narcotráfico. O que aconteceu desde então?
Carlos Magno de Miranda - O mesmo que aconteceu com Fernando Collor, com os bancos que estão aí quebrando: nada. É o Brasil, não é?
Agência Folha - O sr. o acusou de receber US$ 1 milhão do narcotráfico?
Miranda - Foi. Da Colômbia. Eu sustento, eu participei. Quando viajamos à Colômbia, afirmava-se que era um reconhecimento prévio para a igreja entrar no país. Fomos em quatro ou cinco casais. Só depois ficamos sabendo que a viagem era para trazer dólares.
Agência Folha - Como o sr. trouxe o dinheiro?
Miranda - Não, eu não trouxe. Fui o único que recusou.
Agência Folha - Como o sr. sabe que era do narcotráfico?
Miranda - Porque o pastor Gonçalves, que dirigia a equipe da viagem, disse: 'Apareceu uma pessoa em São Paulo, que é colombiana, traficante. Essa pessoa matou um coronel na Colômbia, está foragida no Brasil. Aí procurou a igreja e disse: eu tenho US$ 1 milhão, eu empresto ao bispo, mas vocês têm de buscar. Vocês estão com dificuldade de arranjar dinheiro para a compra da Record, eu dou e depois vocês me pagam.' Ou seja, fez uma lavagem.
Agência Folha - Como foi feita a transação?
Miranda - Eles foram ao hotel e indicaram uma casa, onde os pastores foram buscar o dinheiro vivo, em dólares. Eu não pude ir porque adoeci.
Quando cheguei ao quarto, o pastor Gonçalves contou: 'A gente veio para isso'. Eu digo não, não aceito. Não concordo. Aí ele ligou para o bispo: 'O Carlos está revoltado'. Eu falei com o bispo por telefone e ele disse: 'Carlos, para Jesus até gol de mão vale, rapaz'.
Agência Folha - Como o dinheiro foi trazido?
Miranda -Na mão, em pacotes, dentro das calcinhas, no corpo. Era avião fretado, da Líder.
Agência Folha - O sr. tem alguma prova?
Miranda - Que prova eu poderia ter? Tenho prova da ida. Está documentada. Para sair do Brasil tem que ter autorização da Infraero, passaporte, e a saída do Galeão está documentada.
Agência Folha - Onde o dinheiro foi entregue?
Miranda - No Rio, para o próprio bispo, na rádio Copacabana. Foi aí que começou a divergência que acabou resultando na minha saída da igreja.
Agência Folha - Como foi a compra da Record?
Miranda - Eu participei de toda a negociação da compra. Na época, suspenderam o pagamento dos pastores e ninguém mais tinha salário. Todo mundo tinha que fazer sacrifício e todo mundo fez, naquela empolgação...
Agência Folha - O sr. chegou a ser convidado para ser bispo?
Miranda - Sim, eu seria o chefe da Igreja Universal no Brasil.
Agência Folha - A igreja diz que faz milagres.
Miranda - O milagre sempre acontece quando é feito em nome de Jesus. Já aconteceram muitos.
Agência Folha - O sr. sustenta tudo o que já disse?
Miranda - Tudo, tudo, tudo. Sustento e estranho muito não ter dado em nada. É inacreditável. O bispo Edir Macedo -na época, eu fiz essa denúncia- montou praticamente todas as rádios com contrabando. Entrava tudo por São Paulo, pelo aeroporto de Cumbica. A rádio Copacabana, a rádio São Paulo -todo o equipamento entrou contrabandeado.
Agência Folha - Como?
Miranda - Uma das vezes, nós fomos recebê-lo no aeroporto. O bispo havia trazido 16 malas daquelas grandes. Pegamos uma camionete para transportá-las.
Quando chegamos à casa, ele começou a abrir e tinha tudo quanto é equipamento para rádio: gravador, mesas de som das mais finas, equipamentos de estúdio. Era tudo esquema feito com a Receita Federal, lá no aeroporto. Entrava o que precisasse. No Rio, eu já sabia que existia.
Agência Folha - O bispo Edir Macedo tem alguma pretensão política?
Miranda - Tem. Ele quer ser presidente da República. Ele disse que um dia teria poder para dominar o Congresso, politicamente.
Não conseguiu ainda porque tem escolhido mal os candidatos, são verdadeiros fracassos lá em Brasília.

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