São Paulo, quarta-feira, 20 de setembro de 1995
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Antropólogo fala sobre o 'racismo silenciado'

DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 60 pessoas acompanharam a aula de ontem do curso de difusão cultural da USP sobre racismo. "A Respeito de um Racismo Silenciado" foi o tema abordado pelo antropólogo Kabenguele Munanga, que falou para uma platéia formada na maior parte por estudantes da universidade.
"Me interesso por racismo e talvez estude mais profundamente o assunto", disse Ana Paula Rodrigues, 23, aluna de história. Outro estudante, José Roberto Vomero, 32, disse que quer conhecer melhor o tema para poder falar sobre ele. "No Brasil há muito 'achismo', as pessoas acham tudo sem ter nenhuma base para isso."
Em sua exposição, o professor Munanga explicou o que chama de racismo silenciado. Na Alemanha do nazismo e na África do Sul do apartheid, o preconceito era explícito e institucionalizado.
Aqui, segundo o professor, o segmento dominante da sociedade desenvolveu o mito da democracia racial e utilizou a mestiçagem do povo como sustentação do mito, fazendo com que o racismo não seja explícito, mas exista de fato.
Para o antropólogo, a tendência de o brasileiro não admitir que tem preconceito e negar atos discriminatórios, mesmo quando pego em flagrante, tem no mito da democracia racial sua fonte explicativa.
"Como explicar essa negação se a maioria dos negros e mestiços sofre a violência policial nas periferias? Há formas de sentir a exclusão no mercado de trabalho, no sistema educacional, no lazer. É um racismo silencioso."
Se a sociedade não se assume como racista, é impossível mobilizar esforços contra um problema considerado inexistente. "Não há como acelerar a mobilidade social do negro sem atacar a questão da discriminação. Na África do Sul, eles já estão buscando soluções, enquanto aqui ainda discutimos se somos racistas ou não."

Curso até o dia 29, no Departamento de História, das 17h às 19h. Tel. 818-3745. Tema de hoje: "Representações Míticas e Relações Raciais", com Liana Trindade (sala Caio Prado).

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