São Paulo, quarta-feira, 20 de setembro de 1995
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"Washington Post" publica manifesto do Unabomber

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

O jornal norte-americano "The Washington Post" publicou em sua edição de ontem a íntegra do manifesto de 35 mil palavras escrito pelo terrorista conhecido como Unabomber.
Desde 1978, o Unabomber matou três pessoas e feriu outras 23 em 16 atentados a bomba em vários Estados dos EUA.
A decisão de publicar o texto foi tomada em conjunto com o "The New York Times", que dividiu com o "Post" os cerca de US$ 40 mil gastos com a impressão de um caderno especial de oito páginas.
O manifesto só saiu no "Post", porque o "Times" não tinha condições técnicas de editar um caderno separado do resto do jornal com o texto do terrorista.
Em 24 de junho passado, o Unabomber enviou o manifesto (que tinha 62 páginas manuscritas) aos dois jornais.
Em carta endereçada aos editores do "Post' e do "Times", o terrorista prometeu parar de matar mais gente se pelo menos um dos dois veículos publicasse seu texto na íntegra.
O Unabomber deu prazo de três meses para que os jornais tornassem pública sua decisão. O prazo se esgotaria no próximo domingo, dia 24.
Em comunicado distribuído à imprensa, os editores dos dois jornais afirmam que decidiram publicar o manifesto por "motivos de segurança pública", a pedido da secretária (ministra) da Justiça dos EUA, Janet Reno.
Segundo os editores, o FBI (a polícia federal dos EUA) também recomendou a publicação do texto na íntegra.
"Nenhum jornal teria publicado o documento por razões puramente informativas", disse Donald Graham, editor-chefe do "The Washington Post"
Trechos do manifesto já haviam sido publicado pelos jornais em 2 de agosto.
No manuscrito -intitulado "O Futuro da Sociedade Industrial"- o Unabomber defende que seja feita uma revolução contra a opressão da sociedade moderna (leia trechos nesta página).
Em carta enviada aos editores junto com o manifesto, o terrorista também exigiu que os jornais se comprometessem a divulgar mensagens suas durante os próximos três anos.
Ontem, o diretor de redação do "The New York Times", Arthur Sulzberger Jr., disse que ainda não sabe se atenderá à segunda reivindicação do Unabomber.
"Tudo vai depender da maneira como ele se comportar de agora em diante. Não dá para confiar num terrorista. Nós só vamos continuar publicando se ele cumprir sua parte", afirmou Sulzberger.
Apesar de garantir que não mataria mais ninguém, o Unabomber afirmou que continuaria destruindo prédios públicos com bombas.
A publicação do manifesto pelo "Post" provocou polêmica. Em Nova York, era praticamente impossível encontrar exemplares do jornal depois do meio-dia.
A decisão dos jornais dividiu a opinião pública.
A Freedom of the Press (Liberdade de Imprensa), organização não-governamental formada por jornalistas, advogados e cientistas sociais, divulgou nota condenando a publicação do manifesto.
Na nota, a ONG diz que a decisão do "Times" e do "Post" abre precedente perigoso de interferência do governo na linha editorial dos jornais.
"Se o manifesto tivesse sido publicado porque os jornais achavam que havia interesse jornalístico, eu até aceitaria. Mas dizer que a decisão foi baseada num pedido do governo é um absurdo e compromete a autonomia da imprensa", afirmou Jane Kirtley, representante da ONG.
Sulzberger disse que sabe dos riscos da decisão, mas acredita que não havia outra opção.
"Fizemos o menos pior. Sabemos do risco de abrir nossas páginas a um terrorista chantagista, mas não havia outro jeito. Era uma questão de segurança pública", disse ele à Folha.
Para Kirtley, a segurança da população deve ser uma responsabilidade do governo, na qual os jornais não devem interferir.
O editor do "Los Angeles Times, Jack Nelson, defendeu a posição dos dois jornais e disse que ele faria o mesmo.
"A publicação do manifesto na íntegra vai dar novas dicas sobre a identidade do terrorista, ajudando o FBI Só isso já justifica a atitude do 'Post' e do 'Times'.
Outra crítica dos que condenaram a publicação foi que a decisão de ceder às exigências do Unabomber poderá incentivar outros terroristas a usarem o mesmo método de coerção para que suas idéias sejam publicadas na imprensa.

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