São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 1995
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Teimosia ou cautela?

A economia esfriou. A inflação caiu ainda mais. O caixa em dólares do governo bate recordes históricos. O comércio exterior saiu do vermelho. Isso tudo é bom?
O desemprego começa a crescer. Os indicadores de vendas têm sido no máximo mornos. Há quem fale em deflação. Para alguns, já se trata de recessão. As finanças públicas sangram sob o garrote de juros escorchantes. São sintomas de catástrofe iminente?
Já não é segredo que no seio da própria equipe econômica do governo palpitam essas dúvidas. Ao ponto de adiarem a queda dos juros, apesar de tantas evidências que a princípio justificariam mais agilidade na descompressão da economia. É teimosia ou cautela?
Entre os bons sinais e os riscos de submeter a economia a uma estabilização exageradamente dolorosa há espaço para boa dose de arbítrio. Entretanto, se as dúvidas que campeiam por Brasília são justificadas, a cada dia que passa o atual imobilismo torna-se mais intolerável para amplos setores sociais.
Se o que na melhor das hipóteses é cautela passar a ser visto pela sociedade como teimosia, é razoável imaginar que a própria confiança nas autoridades econômicas venha a se reduzir.
Em parte, a confiança na política econômica é fruto da consecução de metas como a redução da inflação. Entretanto, não se pode ignorar que por enquanto a inflação baixa ainda não se fez acompanhar de reformas suficientes para reduzir o custo Brasil, para dar maior racionalidade ao sistema de impostos ou para resgatar a dívida social.
Nesse ambiente de reformas inconclusas e custos produtivos ainda significativos, uma política monetária voltada obsessivamente para o curtíssimo prazo pode atrapalhar mais que ajudar.

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