São Paulo, sábado, 23 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Itamaraty vence Exército e adido acusado de tortura deixa embaixada

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Itamaraty venceu o Exército. O coronel Armando Avólio Filho, adido militar do Brasil em Londres, acusado por entidades de defesa dos direitos humanos de ser torturador, não vai mais continuar na embaixada. O Exército queria manter o coronel no cargo e o Itamaraty era contra.
O adido está no Brasil desde o dia 4 de setembro. Oficialmente, segundo o Ccomsex (Centro de Comunicação Social do Exército), ele foi chamado para consultas junto ao Estado-Maior. O Exército queria ganhar tempo e deixar esfriar os protestos contra a permanência do adido para que ele ficasse no cargo até o fim da missão de dois anos, em maio de 96.
O coronel foi denunciado pelo grupo Tortura Nunca Mais e pela Anistia Internacional em maio desde ano. O Exército estava dividido na discussão sobre as acusações ao adido e a solução para o caso.
O ministro do Exército, Zenildo de Lucena, e alguns comandantes eram favoráveis à saída do adido.
A maioria dos comandantes recomendava que o governo não cedesse. Alegavam que Avólio era oficial subalterno e cumpria ordens no regime militar (64-85), quando, segundo as entidades de defesa dos direitos humanos, ele participou de sessões de tortura.
Avólio pressionou o comando do Exército, por achar que não estava sendo defendido.
O ministro Zenildo pediu ao Estado-Maior que analisasse os prejuízos para a imagem do Brasil, caso o adido fosse mantido em Londres. O Itamaraty nunca teve dúvida: a melhor solução seria a retirada do adido e sua substituição. Foram os funcionários da embaixada que informaram a imprensa da vinda do coronel ao Brasil.
O Exército manobrou também com as regras burocráticas para despistar a Anistia Internacional.
Em junho, ao anunciar a exoneração de Avólio, o Estado-Maior cumpria apenas um rito formal que manda demitir os adidos um ano antes do prazo previsto para deixarem o posto -assim, o substituto tem tempo suficiente para se preparar para a nova função.
As acusações contra Avólio foram levantadas em depoimentos dados ao Tortura Nunca Mais do Rio. A primeira acusação ocorreu em 1985. Segundo o grupo, sete ex-presos políticos denunciaram o militar por tortura. Oficialmente, segundo o Ccomsex, não há qualquer acusação contra o adido.

Texto Anterior: Documentos podem aumentar lista oficial
Próximo Texto: Covas recebe prefeitos em viagem por hidrovia
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.